2.10.11

Privatizações: deixem-me lá ver se percebo


O PS + PSD + CDS assinaram o famigerado memorando com a troika estrangeira, que prevê, a dado passo, a privatização completa de um conjunto de empresas em que o Estado português tem participações. Essas participações, vão dos 100% na Caixa Geral de Depósitos a apenas 8% na GALP.

Escolhi algumas de entre as explicitamente referenciadas (embora estejam mais na calha) para perceber, afinal que prejuízo elas dão ao Estado e aos portugueses e para entender a razão última pela qual nos devemos "ver livres" delas rapidamente.

Retirei a TAP e a CP Carga, por estarem sujeitas a um conjunto de factores exógenos (preço dos combustíveis e outros) que podem tornar a sua manutenção na esfera pública controversa, ainda que uma perspectiva séria de desenvolvimento para o país (designadamente as exportações de que tanto falam), as tornem indispensáveis nas mãos dos portugueses e não de apenas alguns portugueses ou mesmo de estrangeiros.

Veja-se então quais são as outras, bem como os lucros, sublinho lucros, que apresentaram no primeiro semestre de 2011. Sublinho, 1º semestre de 2011:

Empresa
Lucro
(Milhões de Euros)
Participação do Estado
Dividendos para o Estado Português
(Milhões de Euros)
 ANA - Aeroportos de Portugal
28,9
100 %
28,9
GALP
111
8%
8,9
EDP
609
25,73 %
156,7
REN
68,3
51,08 %
34,9
CTT
34,2
100%
34,2
Caixa Seguros: Fidelidade Mundial, Império Bonança, Multicare, Cares e Via Directa
35,5
100%
35,5
TOTAL
886,9

299,1

Ora, conclui-se então que num semestre apenas, do critico ano de 2011, o conjunto destas empresas públicas, geraram lucros no montante de 886,9 milhões de euros.

Esta interessante cifra de lucros, proporcionou aos Estado português, dividendos no montante de 299,1 milhões de euros.

Se se admitir que o ano de 2011 terá um segundo semestre mais difícil em resultado das políticas recessivas impostas pela troika estrangeira e caninamente seguidas pela troika portuguesa e, que, os lucros do segundo semestre serão inferiores em 20% em relação ao primeiro semestre, teremos então menos 59,8 milhões de euros de lucros na segunda metade do ano, nestas empresas.

Daí resultará então um lucro anual de 299,1 (primeiro semestre) + 239,3 (segundo semestre), = 538,4 milhões de euros.

Note-se, portanto, que em ano de fortes atribulações e poderosas tropelias feitas ao nosso país, apenas 6 empresas de sectores estratégicos da economia, nalgumas das quais o Estado tem participações quase simbólicas, geram-se dividendos para a economia nacional no valor de quase 540 milhões de euros.

Pergunto-me então porque razão nos devemos desfazer destas empresas ?

Estas empresas prejudicam os portugueses e a economia nacional ?

Ou estas empresas são ainda e apesar de todos os boys dos partidos da troika portuguesa que por lá têm passado e malfeitorias que lhes têm feito, sinal de dignidade, capacidade, independência e oportunidade para o futuro ?

Imagine-se que estas 6 empresas teriam capital integralmente do Estado português. Então, os dividendos a reverter para os portugueses seria de mais de 1,5 mil milhões de euros num só ano.

Haverá por aí algum João Duque, algum Luis Delgado ou fauna semelhante que me consiga convencer que é bom para mim, para os portugueses e para Portugal privatizar estas empresas ?

Se o fizermos, comparamo-nos ao tolo da galinha dos ovos de ouro, mas em pior, porque não matamos a galinha como na fábula, mas entregamo-la a escroques para que fiquem com ela e com os ovos. Vai-se-nos o lucro e a dignidade. Ficamos com a humilhação e o vexame!

Isto, como bem se vê, não é "emagrecer o Estado" (seja lá o que for este slogan assassino), mas antes empobrecer o país e cada um de nós.

Expliquem-me lá, as troikas fazem o mal e a caramunha e, nós, patetas, achamos bem e ainda batemos palmas ?!...

Expliquem-me lá, em benefício de quem se pretende as privatizações das nossas melhores empresas ?

Porque não estão na lista das troikas aquelas que dão efectivo e comprovado prejuízo ?

Expliquem-me lá, para ver se eu percebo.

Só posso concluir que a razão pela qual nos aconselham e exigem a privatização destas empresas é porque elas dão muito lucro.

As que dão prejuízo, azar, essas sim, que fiquemos nós, tugas palermas, com elas. Que lhes paguemos as dívidas e se um dia forem lucrativas, logo se fará um novo "memorando de entendimento" entre troikas para as privatizar também.

Se bem percebo, as troikas não estão no poder para nos conceder o poder de decidirmos das nossas vidas, sermos soberanos e escolhermos os caminhos do desenvolvimento. São a raposa que entra no galinheiro. Vão os ovos de ouro primeiro, mas logo irão todos os outros também.

Desta maneira, até para comer, seremos em breve os mendigos da Europa.