20.7.14

Breves notas sobre a problemática do sítio certo


Não ignoro que há quem considere que certas matérias, certas advertências, certas observações, certas propostas, que abordo publicamente, deveriam ser feitas num tal "sítio certo".
 
Embora não perceba bem, se tais opiniões se referem à minha condição de cidadão ou a alguma circunstância especial que sobre mim impenda, não me custa admitir que possam ter razão.
 
Não pode ser de outra forma. São recomendações ponderadas, emergentes de uma  experiência consolidada, de um agudo sentido do interesse comum. Estou certo que sim.
 
Então o que me traz a este "sítio incerto" e inconveniente com esta conversa ?
 
Apenas recordar que se têm esquecido de me disponibilizar o mapa para o dito "sítio certo".
 
Aguardo com expectativa que uma boa, ponderada e experiente alma, me faculte o endereço, ao certo, do "sítio certo". Nenhum dos caminhos que percorri até agora, por iniciativa própria, pelos vistos, me levou até lá.

Venha de lá essa rota!

6.7.14

Redes (in)Sociais


Analisar o efeito das chamadas "redes sociais" nas sociabilidades e na vida social, cultural, económica e política, é matéria que se presta a intermináveis estudos e a uma cascata de opiniões. Bem se percebe, que não pode deixar de ser...
 
Como tudo na vida, as "redes sociais" têm aspectos bons e agradáveis e outros péssimos e miseráveis. Uma faca, é um precioso auxiliar para a humanidade, mas um instrumento perigosíssimo nas mãos de alguns indivíduos e não apenas dos serial killer. Também é perigoso nas mãos de perturbados de outras patologias, das crianças, de doentes de Parkinson e cidadãos em idades avançadas. E nestes ultimos casos, ninguém quer fazer mal a ninguém e muito menos a si próprio, mas já tem acontecido...

Portanto, a questão não é a existência do "cutelo" mas quem o usa e como usa.

Estas novas formas de comunicação entre os indivíduos, trouxe consigo um conjunto de novos problemas a acrescer às singularidades de base da comunicação. Este modelo de comunicação - ao contrário da presencial - não transporta consigo os olhos, a face, as mãos, o tom de voz, as enfâses, os silêncios, que permitem uma percepção mais completa das mensagens.

Por isso, há quem não perceba uma ironia, há quem se ofenda porque alguém lhe escreveu em maiúsculas (dizem estes ofendidos que se está a gritar com eles !...), há quem não entenda uma subtileza, há quem leve à letra uma figura de estilo. Falta a comunicação "completa" (se a há), difícil de obter apenas pela linguagem convencional e formal da escrita.
 
Para o bem e o para o mal, todos têm centenas de "amigos", cuja maioria, provavelmente,  nunca viram, nem mais gordos, nem mais magros. Como pode interagir-se, que não seja num plano estritamente formal e educado, à semelhança de qualquer caso em que travamos conhecimento com uma outra pessoa ?
 
Como na vida livre de "redes sociais", os interesses e motivações são muito diversas. Encontra-se desde aqueles que apenas jogam compulsivamente, até aos que mostram obssessivamente os filhos ou os cãezinhos, passando pelos que publicam as suas músicas favoritas, os que mostram os seus talentos especiais, os que esparramam boçalidades, os que dão largas ao seu fervor clubístico, os que criticam políticas e políticos e um sem número de outras preferências.

Tudo isto coexiste nas "redes", e todos podem interpelar, comentar e interagir nos conteúdos públicos, a todo o tempo, cruzando-se infindavelmente - se se quiser - visões, perspectivas, opiniões, debates e até insultos.
 
Não é invulgar, um pequeno debate, por ventura, interessante, ser abruptamente desvirtuado e interrompido por intervenções despropositadas, desrespeitosas, disparatadas, quando chegam indivíduos que estão descontextualizados e fora do "espírito" da conversa. Acontece no convívio presencial e é vastamente potenciado, no âmbito das "redes sociais".
 
E é neste quadro, aqui desenhado em traços grossos e imprecisos, que o já de si complexo mundo da política, vai chegando ao complexíssimo mundo comunicacional das redes sociais. E aportam de todas as formas e feitios, a maioria, sem preparação e real percepção do "mundo novo" em que estão a entrar, apenas presumindo estar perante uma ferramenta que lhe permite "passar a sua mensagem" e "convencer" os paroquianos da bondade das suas actuações, quantas vezes sem uma mínima fundamentação que estribe as ideias dispendidas ou as acções prosseguidas.
 
Temos os bons exemplos. Os que separam criteriosamente a sua vida privada da pública, os que prestam informações sobre a sua acção e se dispõem a responder quando indagados, os que não se expõem para além dos limites razóaveis, os que dominam bem a "ferramenta" e controlam os seus mecanismos, para não serem sujeitos a insultos públicos e incómodos desnecessários. Os que não aspiram a ser "amigos" deste e do outro mundo.
 
Temos os maus exemplos. Os que aspiram a doutrinar ou induzir falsamente os frequentadores das redes, aqueles que misturam esferas pública e privada, aqueles que reagem intempestivamente a críticas ou avaliações, aqueles que aproveitam as "redes sociais" para fugir aos debates face-a-face e se refugiam no conforto da distância, para dizerem o que nunca diriam e os que abrem "perfis" falsos para emitirem opinião, muitas vezes verdadeiras agressões, mas que o fazem por detrás de um rosto e dados pessoais que não são os seus. Em regra, estes maus exemplos, são os que começam a querer medir a sua importância política pela quantidade de "amigos" e pela contagem de "likes" que obtêm nas suas "publicações". São fáceis de identificar porque não resistem a gabar-se dos seus (de)"feitos".
 
Estou em crer que ao usarem as "redes sociais" na internet, os cidadãos têm de acautelar-se e conduzir-se como em qualquer esfera social. Com ponderação, bom-senso, respeito pelos outros e credibilidade.
 
Para os agentes políticos essas responsabilidades têm uma progressão geométrica.
 
Podem ter a ilusão (não sabemos o que o futuro nos reserva, claro!) de que é possível, já hoje, fazer política sem contacto directo, franco, aberto, pessoal, com os eleitores. Parece ser ilusão a mais !
 
Podem ter a distracção de, num mesmo "perfil", mostrarem a sua "eternecedora família", para no momento seguinte apresentarem uma proposta política, alternando adiante, entre a crítica aos adversários, a resposta às avaliações da sua proposta e os comentários sobre o marido, a esposa, os filhos, os avós, os tios, as viagens de família, que os "amigos" fazem, correspondendo ao desafio que foi lançado com a publicação de imagens ou informações particulares. Creio ser muita distracção !
 
Podem ter a ambição de conquistarem ou preservarem o seu lugar, tornando-se num dos mais "gostados" da rede, mas não é certo o efeito provocado junto dos eleitores, quando estes constatam que o agente político em causa, passa tanto tempo na internet a tentar ser "popular", que certamente não estará a tratar dos assuntos pelos quais e para os quais foi eleito. É uma equívocada ambição !
 
Acresce que um cidadão tem graus de liberdade que um agente político não tem, exactamente pelo diferente papel em que um e outro estão investidos.
 
O que o agente político diz, mostra, prefere, as escolhas que faz, os "amigos" com quem interage publicamente, tudo conta.
Sem moralismos, nem puritanismos (não seria eu a pessoa certa para tais percursos), acentuo a minha convicção de que os cidadãos não devem expôr-se excessivamente nas "redes sociais". Se esses cidadãos, são agentes políticos, deviam proibir-se a si próprios de o fazer.

Recomendo outro caminho: Venham para a rua falar com as pessoas, perceber os problemas que todos enfrentamos e agir para os resolver.
 
 

 

Turismo ?!... Que turismo ?



Há anos que se vem fazendo a invocação, no país e no Concelho de Loures, de que há grande potencialidade para o turismo. Não me atrevo a duvidar e, no que a Loures respeita - porque  quanto ao país não o farei agora - até posso reconhecer alguma potencialidade e algumas possibilidades.

Contudo, enquanto não for cabalmente assumido que estamos no patamar zero e a caminho de coisa nenhuma, os avanços serão nulos.

Podem, para este debate, serem convocadas as centenas de iniciativas em prol de uma alegada “promoção do turismo” de Loures. Ora, veja-se o que resultou desse já vasto investimento e com facilidade se concluirá que valeram coisa praticamente nenhuma. E fica aqui o praticamente, apenas porque houve uma iniciativa que sobreviveu – o Festival do Caracol Saloio - e que traz hoje, após um quinquénio de edições, uns milhares de “turistas gastronómicos ocasionais” a Loures. De tudo o resto, o vento nada deixou…

É inquestionável que Loures tem património natural e construído, tem uma Rede de Museus, bonitas paisagens, locais aprazíveis e outras oportunidades. Mas nunca, em parte nenhuma do mundo, o turismo foi bem sucedido pelo mero somatório de elementos, factos e acções dispersas, desconexas e sem rumo.

A par das potencialidades, há sérias ameaças a qualquer perspectiva de valorização turística. Não é invulgar uma bonita paisagem estar “contaminada” por postes de alta tensão, aerogeradores, construções ilegais e/ou barracas. A escassez de unidades hoteleiras, uma restauração globalmente pobre, de vistas curtas e qualidade de serviço confrangedora e, uma frente ribeirinha sofrível, são apenas alguns, sublinho, apenas alguns, dos obstáculos que precisam ser tidos em conta numa qualquer vontade séria de desenvolvimento turístico.

A vida não espera que façamos planos para a conformar e, portanto, quanto mais tarde se começar a tratar o tema com seriedade, mais significativo será o nosso atraso, porque os últimos anos afundaram Loures para uma pouco invejável posição, de uma espécie de quintal das traseiras da Capital, sem defender o seu território, as suas qualidades e desperdiçando oportunidades.

Não se inverte tal situação por passes de mágica. Não se faz o caminho contratando uns “consultores” que recomendam receitas genéricas – servem aqui ou no Sri Lanka – cobram umas “massas” e passam adiante.

Uma actividade turística nascente, em Loures, requer humildade, determinação, visão, dinâmica, paciência, diálogo, criatividade, coordenação, envolvimento. Evidentemente, é necessário um Plano Estratégico, que defina o rumo. Existem recursos no Município e na comunidade local, para iniciar o caminho. Estão no terreno oportunidades a pedir para ser olhadas com atenção. É preciso fazer antes o trabalho duro que proporcione os benefícios económicos, sociais e culturais futuros. Nenhum rasgo o substituirá. Nenhum dinheiro o amenizará. As ideias não se regam com dinheiro.