Estas novas formas de comunicação entre os indivíduos, trouxe consigo um conjunto de novos problemas a acrescer às singularidades de base da comunicação. Este modelo de comunicação - ao contrário da presencial - não transporta consigo os olhos, a face, as mãos, o tom de voz, as enfâses, os silêncios, que permitem uma percepção mais completa das mensagens.
Por isso, há quem não perceba uma ironia, há quem se ofenda porque alguém lhe escreveu em maiúsculas (dizem estes ofendidos que se está a gritar com eles !...), há quem não entenda uma subtileza, há quem leve à letra uma figura de estilo. Falta a comunicação "completa" (se a há), difícil de obter apenas pela linguagem convencional e formal da escrita.
Para o bem e o para o mal, todos têm centenas de "amigos", cuja maioria, provavelmente, nunca viram, nem mais gordos, nem mais magros. Como pode interagir-se, que não seja num plano estritamente formal e educado, à semelhança de qualquer caso em que travamos conhecimento com uma outra pessoa ?
Como na vida livre de "redes sociais", os interesses e motivações são muito diversas. Encontra-se desde aqueles que apenas jogam compulsivamente, até aos que mostram obssessivamente os filhos ou os cãezinhos, passando pelos que publicam as suas músicas favoritas, os que mostram os seus talentos especiais, os que esparramam boçalidades, os que dão largas ao seu fervor clubístico, os que criticam políticas e políticos e um sem número de outras preferências.
Tudo isto coexiste nas "redes", e todos podem interpelar, comentar e interagir nos conteúdos públicos, a todo o tempo, cruzando-se infindavelmente - se se quiser - visões, perspectivas, opiniões, debates e até insultos.
Não é invulgar, um pequeno debate, por ventura, interessante, ser abruptamente desvirtuado e interrompido por intervenções despropositadas, desrespeitosas, disparatadas, quando chegam indivíduos que estão descontextualizados e fora do "espírito" da conversa. Acontece no convívio presencial e é vastamente potenciado, no âmbito das "redes sociais".
E é neste quadro, aqui desenhado em traços grossos e imprecisos, que o já de si complexo mundo da política, vai chegando ao complexíssimo mundo comunicacional das redes sociais. E aportam de todas as formas e feitios, a maioria, sem preparação e real percepção do "mundo novo" em que estão a entrar, apenas presumindo estar perante uma ferramenta que lhe permite "passar a sua mensagem" e "convencer" os paroquianos da bondade das suas actuações, quantas vezes sem uma mínima fundamentação que estribe as ideias dispendidas ou as acções prosseguidas.
Temos os bons exemplos. Os que separam criteriosamente a sua vida privada da pública, os que prestam informações sobre a sua acção e se dispõem a responder quando indagados, os que não se expõem para além dos limites razóaveis, os que dominam bem a "ferramenta" e controlam os seus mecanismos, para não serem sujeitos a insultos públicos e incómodos desnecessários. Os que não aspiram a ser "amigos" deste e do outro mundo.
Temos os maus exemplos. Os que aspiram a doutrinar ou induzir falsamente os frequentadores das redes, aqueles que misturam esferas pública e privada, aqueles que reagem intempestivamente a críticas ou avaliações, aqueles que aproveitam as "redes sociais" para fugir aos debates face-a-face e se refugiam no conforto da distância, para dizerem o que nunca diriam e os que abrem "perfis" falsos para emitirem opinião, muitas vezes verdadeiras agressões, mas que o fazem por detrás de um rosto e dados pessoais que não são os seus. Em regra, estes maus exemplos, são os que começam a querer medir a sua importância política pela quantidade de "amigos" e pela contagem de "likes" que obtêm nas suas "publicações". São fáceis de identificar porque não resistem a gabar-se dos seus (de)"feitos".
Estou em crer que ao usarem as "redes sociais" na internet, os cidadãos têm de acautelar-se e conduzir-se como em qualquer esfera social. Com ponderação, bom-senso, respeito pelos outros e credibilidade.
Para os agentes políticos essas responsabilidades têm uma progressão geométrica.
Podem ter a ilusão (não sabemos o que o futuro nos reserva, claro!) de que é possível, já hoje, fazer política sem contacto directo, franco, aberto, pessoal, com os eleitores. Parece ser ilusão a mais !
Podem ter a distracção de, num mesmo "perfil", mostrarem a sua "eternecedora família", para no momento seguinte apresentarem uma proposta política, alternando adiante, entre a crítica aos adversários, a resposta às avaliações da sua proposta e os comentários sobre o marido, a esposa, os filhos, os avós, os tios, as viagens de família, que os "amigos" fazem, correspondendo ao desafio que foi lançado com a publicação de imagens ou informações particulares. Creio ser muita distracção !
Podem ter a ambição de conquistarem ou preservarem o seu lugar, tornando-se num dos mais "gostados" da rede, mas não é certo o efeito provocado junto dos eleitores, quando estes constatam que o agente político em causa, passa tanto tempo na internet a tentar ser "popular", que certamente não estará a tratar dos assuntos pelos quais e para os quais foi eleito. É uma equívocada ambição !
Acresce que um cidadão tem graus de liberdade que um agente político não tem, exactamente pelo diferente papel em que um e outro estão investidos.
O que o agente político diz, mostra, prefere, as escolhas que faz, os "amigos" com quem interage publicamente, tudo conta.
Sem moralismos, nem puritanismos (não seria eu a pessoa certa para tais percursos), acentuo a minha convicção de que os cidadãos não devem expôr-se excessivamente nas "redes sociais". Se esses cidadãos, são agentes políticos, deviam proibir-se a si próprios de o fazer.
Recomendo outro caminho: Venham para a rua falar com as pessoas, perceber os problemas que todos enfrentamos e agir para os resolver.