25.7.12

PCP quer governar ?








O PCP irá realizar o seu próximo Congresso em Dezembro do corrente ano.
Sou membro do PCP. Não me demiti e não fui expulso (que eu saiba!), mas é conhecido que fui, pelo menos, silenciosa e matreiramente afastado de toda a acção partidária, ao arrepio do normativo estatutário que determina como uma das condições essenciais de pertença, a “militância numa das suas organizações”, ao que acrescem o conjunto de direitos e deveres dos artigos 14 e 15 dos ditos Estatutos.
Vem isto a propósito agora de se vir a aproximar a Assembleia Magna e ser mais do que previsível de que não serei convidado para nada que ao evento e, sobretudo, às decisões a tomar, digam respeito.
Mas, mais do que isso, bem mais importante do que isso, é que admito que se corre o risco de o PCP, a propósito deste desgraçado Governo e governação em Portugal e na Europa, se venha a limitar e enredar na sua terminologia anti-capitalista (que é justificada evidentemente, mas insuficiente para o necessário) e na sua liturgia operativa, não progredindo na análise e reflexão sobre matérias substanciais que um partido de esquerda, um partido comunista, não pode tornear, escamotear e adiar.
Creio não ser de considerar que o PCP possa ser uma força governativa a curto prazo, mas é evidente que é sua obrigação preparar-se para que o possa vir a ser num futuro, qualquer que ele seja, sendo que, nos tempos que correm, é de exigir que o faça mais cedo que tarde, de modo a favorecer a constituição de uma alternativa política e governativa real e séria, com políticas verdadeiramente alternativas e não apenas conter-se num quadro retórico em que ninguém acredita, incluindo aqueles que o formulam e anunciam.
Sem precipitações, mas fazendo o caminho com determinação e visão estratégica, o PCP deve, segundo o meu ponto de vista, para além de todas as matérias que tem previsto incluir e desenvolver nas suas teses, determinar linhas de trabalho que levem ao aprofundamento de temas e propostas pertinentes sobre:
1.       A demografia, a problemática do envelhecimento e a distribuição territorial da população;
2.      A renovação do projecto autárquico, ajustando-o às novas circunstâncias e realidades sociológicas das cidades e regiões, alargando-lhe horizontes, definindo objectivos para uma progressão eleitoral acentuada e pugnando por uma reorganização politico-administrativa em ordem a um país mais equilibrado, justo e participativo;
3.     O desafio ambiental e o problema preocupante da desertificação e empobrecimento dos solos, o desaparecimento de ecossistemas e a volatilização de áreas florestais de todo o tipo;
4.     Uma política nacional de gestão das águas, superficiais e subterrâneas, assegurando o seu património público, a poupança e a sua distribuição equilibrada e justa e os seus usos estratégicos;
5.    Medidas concretas de valorização da Zona Económica Exclusiva como instrumento da independência nacional e do desenvolvimento do país;
6.      Formas de estímulo, incentivo e apoio à produção nacional, industrial, agrícola, marítima e de serviços que não dependa de financiamento estrangeiro, empréstimos e programas europeus que imponham dependências e compromissos para as gerações futuras;
7.      A definição de “clusters” económicos prioritários enquanto alavancas de recuperação económica, minimização das dependências externas, dinamização do mercado interno e projecção internacional;
8.     Uma politica técnico-cientifica, suportada numa educação pública de igualdade de oportunidades e articulada com a produção nacional, ambiciosa e determinada, captando para o seu impulso e dinamização todos os contributos e prestigio de nacionais que em Portugal e no mundo obtêm sucessos assinaláveis nestes domínios;
9.     Definição de políticas culturais multidimensionais, em articulação com as autarquias locais, orientadas por princípios de envolvimento participativo, estimulo à criatividade, organização e autonomia, sem recurso a subsídios como forma estrutural de incentivo e manutenção das actividades;
10.  O aperfeiçoamento da intervenção no universo sindical, conferindo-lhe acrescido prestigio, adesão e capacidade de intervenção a todos os níveis da estrutura produtiva em ordem à inversão da tendência de não sindicalização, corrigindo os mecanismos que viabilizam a eternização de dirigentes e delegados sindicais e a exclusão da sindicalização e participação sindical de desempregados, precários e jovens à procura do 1º emprego;
Com esta ou outra organização temática, analisar, debater e formular propostas ao país sobre estes assuntos é decisivo – penso eu – para habilitar o Partido a enfrentar o futuro, para lá das vulgatas e recorrências discursivas, que aparentando enorme firmeza ideológica, encerram fragilidades inultrapassáveis quanto à sua objectividade, à sua percepção, à sua aceitação e à sua adopção.
Pelo contrário, estudar, conhecer, dominar e propor à discussão pública temas da maior importância presente e futura para a vida dos trabalhadores e cidadãos em geral, só podem trazer ao PCP reconhecimento, capacidade e robustez programática, sem abdicações ideológicas, para poder vir a governar ou influenciar o governo do país.
Creio que recusar tal missão e obrigação (de estar preparado para governar ou influenciar a governação), elaborar sobre princípios gerais sem consequências, deixar-se remeter para a armadilha “dos que estão contra tudo e todos” será um erro histórico que pode condenar o Partido à mumificação politica e ideológica, quando o país, os trabalhadores e o povo mais precisam dele.
Alguém dirá, provavelmente, que faça eu então propostas concretas. Posso escrevê-las e entregar, dir-me-ão, coisa, de resto, que já me foi dita noutras ocasiões e cuja resultante foi o estrangulamento imediato pela primeira mão a que chegaram.
A tais subterfúgios responderei, aqui estão feitas as minhas propostas, porque, evidentemente, o desenvolvimento de um trabalho desta natureza e alcance é para todo um colectivo partidário e muito para além dele. As minhas propostas, neste momento, dirigem-se às direcções políticas (e a todos os militantes, embora apenas potencialmente), porque só com a vontade política dirigente, a tarefa de preparar o Partido para governar é exequível.
Queira-se alguma colaboração minha e darei a que for capaz. Para cerimónias rituais, já dei o que tinha a dar.