9.8.05

Pedradas e cartazadas.

Nos bastidores da calmaria das férias e da exaltação dos incêndios que de novo põem o território a ferro e fogo, preparam-se as eleições autárquicas do próximo Outubro. O país vai ganhando um colorido eleitoral, marcado pelos tão em voga “outdoors” de todos os tamanhos e feitios. Alguns de horrendas cores e delirantes slogans, bem ilustrativos, da falta de ideias, de criatividade e de propostas. O poder pelo poder é o fim último, na maioria dos casos.

Quando a estação terminar, as máquinas de promessas, já em aquecimento, vão roncar com a máxima força possível e para além dos cartazes e folhetos, da oferta de electrodomésticos e passeios de helicóptero, de novo, vai valer tudo para a conquista de uma ração de popularidade que garanta votos.

Já começaram a ser atiradas as “primeiras pedras”, mas estou certo que os portugueses serão verdadeiramente “apedrejados” muito em breve. Nalguns sítios, as “primeiras pedras” serão seguramente repetentes. Serão “primeiras”, já pela segunda, terceira e quarta vez, para manter a expectativa de que “é desta” que a obra nasce e o povo rejubila…

Por exemplo, achei curioso, o caso do Quartel dos Bombeiros Voluntários de Sacavém que devia ter sido construído há muitos anos, mas que ultimamente seria urgente para apoiar a realização da EXPO-98 (veja-se bem, era para estar pronto no ano da graça do senhor de 1998). Em 2005, viu lançada mais uma “primeira” pedra. Estou capaz de dizer que com tantas primeiras pedras, se as têm colocado ao lado umas das outras, certamente, teria logo nascido uma parede e a “coisa” estaria mais adiantadita.

Mas muitos mais projectos, de norte a sul, vão ter direito em breve a uma “primeira” pedra, embora se saiba que levarão anos e anos a verem outras pedras a juntarem-se-lhe.

Tenha-se presente que as “primeiras” pedras em vésperas eleitorais, são para os partidos um barato meio de promoção das candidaturas dos seus apaniguados no poder, já que a pretexto da cerimónia oficial, seremos todos nós a pagar, a pedra propriamente dita, a argamassa que se lhe junta, o corropio de veículos e técnicos que estudam a sua localização para gerar o melhor e impressivo efeito, a publicidade que informa o povo do evento, o beberete para que o povo que compareça possa “petiscar” e o microfone de onde o Presidente se promove a si próprio e aos seus “feitos notáveis”, onde avulta o de com uma só pedra atingir tantas cabeças.

Nota de rodapé: Levei um susto

Regressado de férias à minha terra natal, encontro um cartaz à porta, da Câmara de Loures, que informa: Vamos mudar Sacavém! Caramba, assustei-me. Pensei que se iria passar alguma coisa parecida com a aldeia do Alqueva, que Sacavém iria ser tresladada, que tinham acabado com ela de tanto ter sido maltratada nos últimos anos. Sei lá, para fazerem uma barragem no Trancão ou mesmo uma Cidade a Sério, noutro local, sem o cerco e o sufoco urbanísticos que progridem na actual localização.

Mas não. Foi um susto apenas. São cartazes a informar-nos que afinal vão agora começar as obras que deviam ter tido início há três anos atrás, quando o Eng. Adão Barata deixou pronta a arrancar uma nova fase de requalificação da Cidade.

Cá está então mais uma “primeira” pedra, mascarada de cartaz, mas estou convencido que ainda teremos uma cerimónia oficial, com pedra a sério e Presidente da Câmara e tudo…
É claro, que na verdade, tal “pedrada” acabará por assinalar o atraso com que estão a ser iniciadas as obras, que serão muito mais modestas e limitadas do que a anterior gestão municipal tinha programado, mas quem está no poder não resistirá à tentação de afirmar, nem que seja à pedrada ou à cartazada, “esta obra é minha!”.