19.10.05

Prova dos nove…

O PS, como seria de esperar venceu as eleições autárquicas em Loures. Digo-o e já o havia escrito, porque considero que se verifica, em geral, no eleitorado o princípio do benefício da dúvida. O PS teve o benefício da dúvida.

É preciso ter presente que o PS assumiu os destinos da Câmara de Loures ao mesmo que tempo que o país é bombardeado pelos governos de Durão, Santana e Sócrates com a tese da tanga, do short e do fio dental, por esta ordem.

Logo, foi fácil acentuar a ideia de que não haviam meios para fazer grande coisa. A isso, o PS acrescentou que também a Câmara estava sem dinheiro, endividada, estrangulada, o que levava a que nada pudesse fazer. O PS esforçou-se politicamente por disfarçar assim as suas limitações, incapacidades e ausência de estratégia para o Concelho.

Mas o PS que tanto se queixou da anterior gestão, beneficiou ainda e especialmente dos inúmeros projectos, protocolos e contratos-programa com entidades da Administração Central que já estavam preparados, assinados e em marcha que a anterior gestão lhe deixou. Em muitos casos, o PS limitou-se a “cortar a fita”, noutros concluiu a obra e inaugurou, aqui e além, lançou “primeiras pedras”. Embora, não esteja executado um único projecto seu, nasceram, desenvolveram-se e inauguraram-se muitas obras.

Pode dizer-se que o PS beneficiou de uma espécie de “milagre da multiplicação dos pães”, ou seja, não tinha dinheiro para nada e fez tanto… E como a política é cada vez mais uma arte de gerir expectativas, o PS fez a gestão das expectativas e convenceu a maioria dos votantes. Caso encerrado para já. Parabéns aos vencedores.

Só que agora virá a prova dos nove: Se o PS se queixar da anterior gestão queixa-se de si próprio, se se queixar do Governo, queixa-se de si próprio, se não tiver projectos para executar, queixa-se de si próprio, senão tiver uma estratégia para o Concelho, a culpa é só sua.

Tem-se inevitavelmente de aguardar para ver, mas gastos os projectos deixados pela CDU, o PS vai finalmente dar execução às suas promessas de 2001? Acrescidas agora das de 2005 ?

Uma coisa é certa: o PS vai agora ter a sua prova dos nove. Terá de mostrar do que é ou não capaz, sem alibis, sem delongas, sem desculpas. Como se diz popularmente, está na hora de dar corda aos sapatos

E nós estamos cá para ver e avaliar a prestação. Noves fora, nada ?!...

19.9.05

Quem acredita ?

O Dr. Miguel Jorge Reis Antunes Frasquilho é o candidato do PSD à Presidência da Câmara Municipal de Loures;

E reza a sua biografia no “site” oficial da Assembleia da República, que:

O Dr. Miguel Franquilho é deputado eleito na Assembleia da República pelo Círculo Eleitoral da Guarda;

O Dr. Miguel Frasquilho é Quadro Superior do Banco Espírito Santo;

Apresentada a biografia do candidato, julgo que qualquer cidadão de Loures se sentirá intrigado quanto às razões que levarão o Deputado Miguel Frasquilho a ser candidato a Presidente da Câmara de Loures.

Desde logo, porque é Deputado pelo Círculo da Guarda. É certo que o país é pequeno. Pelos cargos desempenhados até é de presumir que o Sr. Deputado viva na zona de Lisboa, mas é evidente que qualquer coisa não bate certo.

Que vivências, que realidade é que o Sr. Deputado acompanha ? As do Distrito da Guarda ou as do Concelho de Loures ? Atrevo-me a responder que se acompanha alguma, será a da Guarda, por onde, ao fim e ao cabo, já está eleito.

Logo, o Dr. Miguel Frasquilho, de quem nunca se ouviu falar em Loures, chegará à data da eleição autárquica, certamente, sem saber grande coisa deste Concelho. Seja do seu passado, seja do seu presente, seja mesmo das aspirações das suas populações.

De resto, fazendo-se anunciar, apenas em “fraquinhos” outdoor’s publicitários – que parecem publicidade sub-reptícia ao euromilhões, onde “temos tudo para ter tudo”, como aliás qualquer português, daqui ou da Guarda, basta que jogue o “jogo dos excêntricos” – não se teve notícia até agora da presença do Sr. Deputado neste Concelho, já tão perto da data eleitoral.

Nem nos Mercados, nem num Comício que seja, nem numa tradicional visita às instalações municipais. Saberá ele onde ficam ?

Donde, se acrescermos o elemento biográfico anunciado de que é Quadro Superior do BES, quem é que acredita que o Sr. Deputado esteja a protagonizar uma Candidatura que pretenda ganhadora ? Quem é que acredita que o Sr. Deputado quer ser autarca nesta terra ? Quem é que acredita que trocaria o lugar de Deputado e Quadro Superior da instituição bancária para vir para Loures ?

E o que viria para cá fazer ? Alguém lhe conhece uma proposta que seja para o Concelho ?

Tudo indica que os eleitores sociais-democratas estão órfãos de candidato e, das duas uma: ou não se ralam e seja o que os outros (eleitores) quiserem, ou se se ralam, terão de fazer outra opção de voto. E na verdade, acho que será esse o caminho que vai decidir o futuro próximo do Concelho de Loures: a opção que os eleitores sociais-democratas fizerem, fora da candidatura (praticamente inexistente) da sua esfera política.

Ou escolhem o PS e contribuem para a continuação da pauperização urbanística, cultural, desportiva, turística e ambiental do Concelho (Loures em 4 anos deixou de figurar em qualquer posição cimeira de todos os ranking’s e estudos especializados sobre os Municípios portugueses). Ou escolhem a CDU e tentam por essa via, que Loures, regresse à via da acção, do desenvolvimento e do prestígio.

9.8.05

Pedradas e cartazadas.

Nos bastidores da calmaria das férias e da exaltação dos incêndios que de novo põem o território a ferro e fogo, preparam-se as eleições autárquicas do próximo Outubro. O país vai ganhando um colorido eleitoral, marcado pelos tão em voga “outdoors” de todos os tamanhos e feitios. Alguns de horrendas cores e delirantes slogans, bem ilustrativos, da falta de ideias, de criatividade e de propostas. O poder pelo poder é o fim último, na maioria dos casos.

Quando a estação terminar, as máquinas de promessas, já em aquecimento, vão roncar com a máxima força possível e para além dos cartazes e folhetos, da oferta de electrodomésticos e passeios de helicóptero, de novo, vai valer tudo para a conquista de uma ração de popularidade que garanta votos.

Já começaram a ser atiradas as “primeiras pedras”, mas estou certo que os portugueses serão verdadeiramente “apedrejados” muito em breve. Nalguns sítios, as “primeiras pedras” serão seguramente repetentes. Serão “primeiras”, já pela segunda, terceira e quarta vez, para manter a expectativa de que “é desta” que a obra nasce e o povo rejubila…

Por exemplo, achei curioso, o caso do Quartel dos Bombeiros Voluntários de Sacavém que devia ter sido construído há muitos anos, mas que ultimamente seria urgente para apoiar a realização da EXPO-98 (veja-se bem, era para estar pronto no ano da graça do senhor de 1998). Em 2005, viu lançada mais uma “primeira” pedra. Estou capaz de dizer que com tantas primeiras pedras, se as têm colocado ao lado umas das outras, certamente, teria logo nascido uma parede e a “coisa” estaria mais adiantadita.

Mas muitos mais projectos, de norte a sul, vão ter direito em breve a uma “primeira” pedra, embora se saiba que levarão anos e anos a verem outras pedras a juntarem-se-lhe.

Tenha-se presente que as “primeiras” pedras em vésperas eleitorais, são para os partidos um barato meio de promoção das candidaturas dos seus apaniguados no poder, já que a pretexto da cerimónia oficial, seremos todos nós a pagar, a pedra propriamente dita, a argamassa que se lhe junta, o corropio de veículos e técnicos que estudam a sua localização para gerar o melhor e impressivo efeito, a publicidade que informa o povo do evento, o beberete para que o povo que compareça possa “petiscar” e o microfone de onde o Presidente se promove a si próprio e aos seus “feitos notáveis”, onde avulta o de com uma só pedra atingir tantas cabeças.

Nota de rodapé: Levei um susto

Regressado de férias à minha terra natal, encontro um cartaz à porta, da Câmara de Loures, que informa: Vamos mudar Sacavém! Caramba, assustei-me. Pensei que se iria passar alguma coisa parecida com a aldeia do Alqueva, que Sacavém iria ser tresladada, que tinham acabado com ela de tanto ter sido maltratada nos últimos anos. Sei lá, para fazerem uma barragem no Trancão ou mesmo uma Cidade a Sério, noutro local, sem o cerco e o sufoco urbanísticos que progridem na actual localização.

Mas não. Foi um susto apenas. São cartazes a informar-nos que afinal vão agora começar as obras que deviam ter tido início há três anos atrás, quando o Eng. Adão Barata deixou pronta a arrancar uma nova fase de requalificação da Cidade.

Cá está então mais uma “primeira” pedra, mascarada de cartaz, mas estou convencido que ainda teremos uma cerimónia oficial, com pedra a sério e Presidente da Câmara e tudo…
É claro, que na verdade, tal “pedrada” acabará por assinalar o atraso com que estão a ser iniciadas as obras, que serão muito mais modestas e limitadas do que a anterior gestão municipal tinha programado, mas quem está no poder não resistirá à tentação de afirmar, nem que seja à pedrada ou à cartazada, “esta obra é minha!”.

29.6.05

Surpresa… ou nem por isso!?...

Uma das vantagens que acabo de descobrir com o meu progressivo afastamento da actividade política activa, é a de que, agora, as pessoas parecem falar mais abertamente comigo, de matérias que não falavam antes. Exprimem opiniões, trocam impressões e dão informações sobre domínios que há pouco tempo não mereciam qualquer abordagem. Ou porque presumiam que eu estaria a par de tudo por outras quaisquer fontes ou, porque assumiriam o pernicioso princípio de que aos políticos (mesmo locais) nunca se conta tudo.

E assim, acabei por ter acesso a um estudo de opinião – que só pude consultar rapidamente – que ao primeiro contacto com os resultados me suscitou surpresa/incredulidade, mas que após alguma reflexão, talvez não seja mesmo nada surpreendente e, ao contrário, bastante crível…

O estudo revela, em traços gerais: a) uma muito negativa impressão na opinião pública do Concelho, sobre a gestão do PS na Câmara Municipal de Loures; b) a elevadíssima probabilidade do PS perder as próximas eleições autárquicas; c) há um claro empate técnico com a CDU, com um número importante de indecisos (ou que não revelam a sua opção).

A minha surpresa/incredulidade original, resultou – penso agora – da característica quase universal no poder local em Portugal, de que após um primeiro mandato, a força no poder tem o benefício da dúvida dos eleitores.

Contudo, bem vistas as coisas, não constitui surpresa o desagrado que as pessoas sentem em relação ao PS, quer no país, quer no Concelho. No governo, os cem dias de governação, foram antes os cem dias da nomeação (da rapaziada amiga) e de preparação para os 4 anos de opressão (económica).

No Concelho, o compromisso do PS de que “Loures vai sentir a mudança” foi confirmado, mas no pior sentido. Loures sentiu a mudança e de que maneira!... Todas as posições cimeiras de que Loures desfrutava no país e até internacionalmente perderam-se completamente. O Concelho está pior que há 4 anos e as principais promessas do PS não foram cumpridas. A recordar, citando o programa eleitoral (compromissos para a mudança) do PS:

“Humanizar, modernizar e desburocratizar o funcionamento da Câmara Municipal de Loures”;

“Acabar, até Dezembro de 2005, com as ‘barracas’ no Concelho”;

“Concluir, de imediato, a legalização dos Bairros Urbanos de Génese Ilegal (…)”;

“Realojar, com programas negociados com o Governo, os moradores dos bairros irrecuperáveis e recuperar as zonas habitacionais mais antigas, com prioridade para as de Sacavém e Prior Velho, tirando maior partido, em especial, do Programa RECRIA”;

Neste folheto tudo foi prometido!“Dotar o Concelho de uma rede de instalações desportivas e equipamentos recreativos e culturais, bem como de ciclovias, de zonas pedonais e de circuitos ambientais”;

“Criar a Polícia Municipal (…)”;

“Lançar um Programa de Parques Residenciais, com cedência gratuita de terreno municipal em sub-solo ou promovendo a construção de parques a custos controlados, bem como construir, em regime de concessão de exploração, Parques Públicos de Estacionamento (…)”;

“Lançar uma Agência de Desenvolvimento Local (…);

Eis algumas das mais expressivas promessas do PS que, passados quase 4 anos de mandato, não foram, nem têm qualquer possibilidade de serem cumpridas. Propositadamente, ignorei as promessas relativas a um campo de golfe em cada escola e outras enormidades.

Se adicionarmos todas estas promessas, com a séria regressão que o Concelho teve em todas as esferas da sua vida (mudou mas para muito pior), mais os 5 milhões de contos que o Executivo Municipal mantém parados no Banco, talvez então se possa concluir que não constituirá qualquer surpresa, que os eleitores e a população do Concelho de Loures recuse o PS à frente dos destinos desta terra, que se habituou a ser dinâmica, criativa, empenhada, trabalhadora e progressiva.

3.5.05

Sacavém, Cidade a Sério.

Um destes dias, por qualquer inexplicável razão que não consciencializei, dei comigo a observar Sacavém com um renovado sentido crítico, procurei colocar-me de fora e olhar para dentro… e senti um choque. Acabei invadido, por uma amarga tristeza e um palpitante sentido de revolta: Estão a destruir a minha terra!

Procurei referências e recordações, desejei identificar o momento inicial da decadência, encontrar os culpados, acusá-los, pública e sonoramente, povoar-lhes os pesadelos.

Superada a exaltação inicial, verifico que o processo de qualificação da Cidade que já estava em marcha - após a profunda depressão dos anos 80 -, foi recentemente interrompido, há poucos anos, que nem tudo está perdido, que há muito por fazer e muito pode ser feito se se interromper já este ciclo destrutivo.

O papel desempenhado pela Câmara Municipal de Loures até 2001 com o apoio da Junta de Freguesia até 1997, em Sacavém, havia dado rumo digno ao problema da Quinta do Mocho, iniciou a despoluição do Trancão, viabilizou intervenções urbanísticas de qualidade, construiu o Museu da Cerâmica, ergueu o Parque Desportivo Alberto Azenha, negociou e obteve do Governo a construção do Pavilhão da Escola Bartolomeu Dias, candidatou-se e ganhou para Sacavém, apoios comunitários através do programa PROQUAL para a qualificação urbana da Cidade, projectou e iniciou o Plano de Salvaguarda de Sacavém e o Plano de Pormenor da Salvador Allende, começou a renovação do parque escolar, com a completa remodelação da “Escola dos Bombeiros”, abriu o Gabinete de Atendimento à Juventude e conquistou com a EXPO-98 melhores acessibilidades, a requalificação paisagística da foz do Trancão e a expectativa de uma frente para o Tejo, de qualidade, fruição e novas actividades.

Agora, temos uma Cidade de regresso à depressão. Um estacionamento inenerrável, um trânsito caótico, a emergência de abortos urbanísticos no meio da Cidade, sem integração nem propósito, o Palácio Barroco e a Quinta do Alexandre a caírem, mercados decadentes (que podiam ter ser substituídos por um mercado novo, com o apoio do PROQUAL, mas que a Junta de Freguesia não quis), a actividade económica e comercial aflita e sem perspectivas, um Jardim que só pode manter esse título por tradição, uma frente ribeirinha para o Tejo a ser vertiginosamente ocupada por mais e mais habitação, os passeios ocupados por florestas de sinais de trânsito e placas indicativas, novas e velhas, semeadas a esmo, ruas sujas e degradadas, entradas da Cidade próprias dos países mais pobres do mundo…

… E um mundo de promessas por cumprir: Nem notário, nem piscina (a tal que deu azo a uma cenaça eleitoralista entre os actuais Presidentes da Câmara e da Junta, com a assinatura de um protocolo fictício para uma piscina a fingir), nem novo Centro de Saúde, nem ligação de Sacavém à 2ª Circular, nem nova Escola na Quinta do Mocho, nem mais apoios às Associações locais, nem modernização da rede de abastecimento de água, nem instalações condignas para os serviços da Segurança Social, nem respeito pela legislação da mobilidade e acesso aos serviços públicos dos cidadãos portadores de deficiência, nem, nem, nem…

O espaço do Jornal não chegaria para dizer tudo. É o grito de alma que fica, para reflexão dos sacavenenses, mas também o convite para que façamos de SACAVÉM, UMA CIDADE A SÉRIO.