20.4.06

Um Presidente no seu quadrado…

Com a devida vénia, recorro ao famoso texto de Manuel Alegre, por vislumbrar na ideia por ele expressa de “um soldado numa guerra que há muito está perdida”, uma curiosa similitude com a actual situação do Presidente da Câmara Municipal de Loures.

Como o soldado de Alegre, o problema é que começa por não saber sequer que guerra é. Não sabe quem lhe vestiu aquela farda, nem quem o mandou para ali e lhe pôs uma arma nas mãos. Munições não lhe faltam, nem rações de combate, nem água. Todos os dias é reabastecido. Mas também não sabe por quem. Não sabe tão pouco quem são os seus.

E este é o primeiro lado do quadrado que o cerca: não sabe quem são os seus! O PS tem um sistema de alianças, relações e interrelações internas tão complexo que quem é aliado do Presidente hoje, é seu inimigo amanhã. Permito-me usar uma imagem: imagine-se um grupo coral alentejano em que todos se encostam e balançam, mas cada um canta o que lhe apetece. É assim a equipa deste Presidente. Nunca sabe em quem confiar amanhã;

Outro lado do quadrado, é o lado do Governo que, supostamente o apoiaria, mas não apoia. Recusa-lhe o Hospital e fecha-lhe os CATUS, abandona-lhe os Palácios, proíbe-lhe o endividamento, seca-lhe o PROQUAL, nega-lhe o metro de superfície, prepara-se para o enganar com o Aeroporto da Portela. Só para referir alguns casos, que a lista é longa. Portanto, também a promessa da capacidade de diálogo com o Governo lhe escapa. Se dialoga, então não lhe ligam nenhuma… E até a folclórica reivindicação dos dinheiros do novo Casino, serve de anedotário entre os membros do Governo.

Um terceiro lado, é o prolongado namoro com o PSD, que nunca mais dá em casamento. O PSD é o mais vulnerável e o mais desejado parceiro para uma coligação na Câmara, mas ceder lugares ao PSD, significa perder lugares para os “boys” da maioria. As intrincadas negociações, nunca mais acabam e o Presidente da Câmara continua refém de um PSD sem rumo, nem norte, que não sabe se quer ou não, se casa ou não casa, se se compromete ou não com esta gestão incapaz, incompetente, ineficaz e ineficiente.

Completa-se o quadrado com o lado público, ou seja, as promessas eleitorais feitas, acrescidas das promessas que todos os dias nascem. No fundo aquilo que ilustra bem que está “numa guerra que há muito está perdida”. As promessas crescem ao mesmo tempo que as dívidas, a par com as ineficiências crescentes, acompanhadas das desconsiderações quotidianas aos técnicos qualificados, que vão sendo emprateleirados para dar lugar a “pessoal com cartão” que vai invadindo em mancha de óleo os serviços municipais, municipalizados e as empresas participadas.

“É o seu quadrado”.
“Diria talvez que é a guerra de um homem”, cercado, “no meio do seu quadrado”.