Evito caracterizar e qualificar a conduta ideológica e política deste governo. Muitos o têm feito com mais competência que eu e com elevado rigor histórico, político e sociológico.
Evito igualmente prognosticar os resultados desta subserviência e das políticas desastrosas e criminosas que estão a ser seguidas. Um sem número de reputados, conscientes e não dependentes economistas tem-no feito com uma acuidade ímpar.
Estimula-me a escrever alguma coisa sobre o desastre nacional em curso, sobretudo para procurar dar uma resposta prática e objectiva à questão: O que fazer ?!...
Os portugueses entraram - já vinha de antes, mas agravou-se com o fragor da crise - num torpor mental, numa crise de identidade, numa insuficiência de análise crítica, numa anomia, sem precedentes.
Á boa maneira portuguesa desespera-se, desacredita-se de tudo e todos, generalizam-se e banalizam-se conceitos. Verga-se a coluna e aceitam-se todas as sevícias, mas resmunga-se baixinho sem que isso contribua para nada, sem que isso - sabemos bem - mude nada.
O desencanto com a classe política
(embora se persista e insista a votar nos mesmos de sempre) parece crescer
consistentemente. O bloqueio ideológico, a superficialidade na apreciação das
condutas dos agentes políticos, o preconceito e a desistência egoísta da
participação na coisa pública, para com facilidade e desavergonhadamente
responsabilizar "os outros", constituem o caldo de cultura para o
estado a que as coisas chegaram.
Ganhou alento a fórmula simplista, perversa e
já bem gasta de "são todos iguais". Paulatinamente, fugindo de
participar e de se responsabilizar pelo que quer que seja que diga respeito à
vida colectiva (por exemplo, vota-se nos do costume, para no dia seguinte às
eleições se estar a negar o voto votado).
Encurralados entre as suas opções eleitorais
e as recorrentes austeridades a que são sujeitos, os portugueses entram em
negação: afinal não foram eles que votaram nos mais votados. No dia seguinte,
ninguém que ganhou teria ganho!
Mas ao contrário de uma parte
importante dos portugueses, que põem tudo e todos "no mesmo saco" é
preciso ter presente que estamos longe de ser um grupo nacional homogéneo
social, politica, sociológica e culturalmente.
O meu impulso para sugerir aqui e
agora uma resposta a O que fazer?, decorre das inúmeras conversas que venho
mantendo com pessoas várias desde o circulo familiar ou de amizade, passando
por colegas de trabalho ou profissão, até completos estranhos com quem a crise
e os problemas do dia-a-dia fazem florescer trocas de impressão espontâneas.
São queixas, desabafos,
incredulidades, descrenças, interrogações, indignações, dificuldades, sacrifícios,
que têm um denominador comum: O que fazer ?
Ou seja, vai crescendo, lenta e sub-repticiamente,
a ideia que é preciso fazer alguma coisa, que este é o caminho do desastre, mas
não se sabe o quê, como, quando, com quem.
Percebe-se, nessas conversas, que são
muito diversificadas as visões do que está a acontecer e, mais ainda, as
perspectivas do que nos espera, mas eu atrevo-me a forçar a constituição de
dois grupos.
Um, que denominarei por do "pensamentro mágico", onde integrarei todos aqueles que por razões de ideologia, de crença, de cobardia sócio-política, de megalomania ou vítimas do síndrome de Estocolmo, entendem que a existência é determinada por entidades "superiores" e que o mundo e a vida nos escapam por vontade de umas tantas "divindades" mais ou menos terrenas (sejam Deus ou os sacrossantos mercados);
E um outro, a que chamarei dos "encalhados" em que se avoluma a vontade de agir, mas que por desapontamento com os partidos políticos, desencanto com a classe política actual, falta de tempo para a intervenção social (pôr comida na mesa todos os dias exige cada vez mais tempo de trabalho), receio de exposição pública e represálias patronais, se encontram desorientados, contidos, paralisados.
Para este segundo grupo faço a sugestão do seguinte pequeno passo, se outros mais significativos não se estiver pronto ou disponível para dar:
Aos trabalhadores por conta de outrém: SINDICALIZE-SE.
Para os micro, pequenos e médios empresários, que se associem na CPPME - Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas
É evidente que não se resolve a crise, não se resolvem os problemas do país e não se devolve a esperança e não se dá um novo rumo, imediatamente, com estas singelas atitudes, mas são pequenas acções (individuais) com reprecussões gerais que fortalecem o movimento sindical e o associativismo (pequeno)empresarial, conferindo-lhes capacidade negocial e reivindicativa que nos pode abrir caminho para um destino diferente que a da permanente chantagem da bancarrota, que apenas serve para despedir em massa, precarizar o trabalho, eliminar direitos, esmagar fiscalmente, empobrecer significativamente.
O que fazer ? para o país se desenvolver a sério, a vida melhorar e nos libertarmos das troikas e dos agiotas.
Dar um passo, desencalhar.