Bernardino Soares, actual Presidente da Câmara Municipal de Loures, venceu as eleições, entre outras razões, porque foi capaz de concitar a expectativa de mudança que largas camadas da população do Concelho almejavam.
Passados cerca de 9 meses - tempo biológico humano de gestação - uma importante parte das expectativas e da mudança, estão em franca concretização.
1. Voltou o rigor, transparência e seriedade às contas municipais;
Passados cerca de 9 meses - tempo biológico humano de gestação - uma importante parte das expectativas e da mudança, estão em franca concretização.
1. Voltou o rigor, transparência e seriedade às contas municipais;
2. Acabaram-se os gastos sumptuários e despropositados;
3. Regressa paulatinamente a credibilidade do Município junto de fornecedores e municípes;
4. Estuda-se e concebem-se projectos e planos de sustentabilidade económico-financeira, de poupança de recursos;
5. Resolveu-se o diferendo com Odivelas sobre o futuro dos Serviços Municipalizados que ameaçavam arrastar para problemas sem fim o Município;
6. Recupera-se a frota municipal, instalações e equipamentos do estado de degradação a que chegaram;
Contudo, permito-me considerar que neste período de uma nova e determinada gestão da coisa pública municipal, persistem ou instalaram-se três equívocos (não vejo que outra coisa chamar). A saber:
Primeiro equívoco: A Comunicação.
Nos ultimos 12 anos a comunicação do Município foi de péssima qualidade e, em particular, não respeitou e não foi orientada para os municípes. Não explicava, omitia, confundia, mistificava.
Com a presente administração municipal nota-se uma vontade de comunicar melhor, é evidente o esforço de transparência, o próprio Presidente é uma mais-valia preciosa no plano comunicativo, mas a herança é tão pesada, a competência é tão questionável e os meios tão pouco propícios a uma boa comunicação, que confrange e impressiona não terem sido tomadas medidas determinadas, até agora, para esta área fundamental de interacção com as populações.
O site municipal é talvez o paradigma do estado de coisas. É um inacreditável labirinto de informação desactualizada, onde é praticamente impossível usar como instrumento de informação e tratamento (pelos cidadãos) de qualquer que seja o assunto com a Câmara Municipal. Não há hierarquia coerente, nem segmentação apropriada da informação. Uma comunicação institucional que diga respeito a todos os municípes, tem o mesmo padrão de tratamento que o aniversário da colectividade ou o Seminário para especialistas.
Segundo equívoco: A Estrutura Municipal.
É bem sabido, por toda a gente, que o PS modelou a estrutura municipal aos seus propósitos e objectivos e promoveu e nomeou ou induziu as chefias com critérios que, em geral, não decorriam da capacidade, competência e dedicação à causa pública, antes assentavam na cumplicidade partidária, na lealdade de grupo ou na mera submissão.
É surpreendente, à luz de uma ética de serviço público, a propósito de uma gestão de rigor e transparência, no quadro de uma administração tendencialmente favorável ao aproveitamento do potencial criativo e de dedicação dos trabalhadores, no âmbito de políticas de mudança, que praticamente nada tenha mudado ainda.
As incapacidades, entropias, incompetências e até os boicotes de carácter activo, omissivo ou abstencionista vão, impunemente, gerando mal estar, desconfiança, desapontamento e desperdicio.
Sem uma estrutura municipal competente, activa, empenhada, motivada, interessada na promoção da mudança, consciente do papel público da sua actividade profissional, dificilmente poderá um Executivo Municipal aplicar o seu programa, eleitoralmente sufragado e legitimamente escolhido.
Terceiro equívoco: Suportes à boa administração municipal
O Presidente tem dado o exemplo. Conduz-se a si próprio, nas suas inúmeras deslocações pelo Município, para o sem número de iniciativas, visitas, acções institucionais, etc. em que participa todos os dias. Não é acompanhado por uma imensa "corte" de serviçais e pajens que nos tinhamos habituado a ver num passado recente. É uma atitude meritória, séria e reveladora de uma conduta pessoal e política singular.
Mas, a distância que cavou entre o exagero e ostentação anterior o ascetismo e frugalidade actual é, à primeira vista chocante e em sentido contrário excessiva também.
Nenhum cânone político pode exigir que o Presidente e Vereadores (que têm funções executivas e muitos horários e exigências a cumprir) prescindam de todo e qualquer instrumento de apoio à sua acção, eficiência e boa presença.
Nenhum cânone político pode exigir que o Presidente e Vereadores (que têm funções executivas e muitos horários e exigências a cumprir) prescindam de todo e qualquer instrumento de apoio à sua acção, eficiência e boa presença.
Contemos uma breve história hipotética: Imagine-se que o Presidente irá estar presente numa iniciativa em que participam muitos municípes, num local, como por exemplo Moscavide. O evento tem hora marcada, muita gente à espera, mas o Presidente não comparece à hora prevista, porque anda a percorrer Moscavide na busca de um lugar para estacionar a viatura, o que encontra apenas na outra ponta da vila. Vê-se obrigado a percorrer a pé, atrasado, uma distância considerável, está calor ao nível do que tem estado nos ultimos dias, estuga o passo para minimizar o atraso. Finalmente chega, atrasado, transpirado, incomodado, necessitado de apresentar desculpas. Se foi prevenido, procurou antes moedas para os parcómetros. Se não foi, mais uma preocupação adicional...
É vantajosa, adequada e respeitosa para com os municípes a opção de se conduzir a si próprio ? Duvido.
Será lembrado pela rigorosa poupança ou por ter chegado atrasado ?
Será lembrado pela rigorosa poupança ou por ter chegado atrasado ?
Se continuarmos a história, podemos presumir que vários municípes, antes e depois dos momentos oficiais, se lhe dirigem, apresentando as mais variadas temáticas, convites, reclamações, alertas, preocupações. O Presidente (ou Vereador se for o caso) está sózinho, sem se fazer acompanhar por ninguém da sua equipa de apoio. Tem uma memória prodigiosa ou "ripa" de um bloco de notas para registar os dados de interesse, detalhes, etc. ? É normal e eficiente ? Duvido.
Os municípes vão recordar o Presidente (ou o Vereador) pela memória, pelo bloco notas ou pelo facto de estar sózinho ?
Estou em crer que os municípes apreciam a modéstia, humildade, rigor e capacidade de trabalho e resistência do seu Presidente, mas também tenho quase a certeza que não apreciam vê-lo sózinho, despojado e sem os mais elementares instrumentos de suporte à sua responsabilidade institucional.
Resolver estas questões, será sanar - do meu ponto de vista - os equívocos que permanecem e abrir o caminho a uma gestão desejada, saudável, reconhecida, motivadora e bem sucedida.
Os nove meses na natural gestação biológica humana passaram, agora é preciso dar à luz e tratar da criança, sempre sujeita às ameaças naturais e artificiais da vida.