26.3.11

Não tem de ser um fado, mas uma janela com horizonte

Como se fosse um fado, uma fatalidade, uma inevitabilidade, após a demissão do Governo, já o mundo dos opinadores, dos jornalistas e até dos chefes de estado e governo estrangeiros nos andam a "informar" que as únicas opções que temos para um futuro primeiro-ministro são Sócrates, ele mesmo, ou Passos Coelho.

Este último, já tenta dar-se ares de primeiro-ministro. O outro, procura mostrar-se determinado, em o vir a ser de novo. Ambos, dançam aquela já bafienta dança do agora vais tu, depois vou eu e assim sucessivamente.

Tudo se prepara, uma vez mais, para o grande (e já habitual) condicionamento. Para nos inclucar a todos a ideia de que não podemos mudar de rumo, nem de vida. Para nos fazer crer que temos "liberdade de escolha", mas ou escolhemos "rosa" ou escolhemos "laranja", ou escolhemos um rapazito ou um rapazote. Nada, nem ninguém mais, é hipótese.

Vão-nos dizendo subliminarmente que nem os "mercados", nem a Sra. Merkel, veriam isso com bons olhos, portanto, se estivermos com ideias peregrinas, o melhor é esquecermos e limitarmo-nos à gentinha em quem eles possam mandar.

Mas os portugueses já bem evidenciaram que querem outro caminho. Não apenas as manifestações de dia 12 e de dia 19 o mostraram acutilantemente, como não se viu derramada uma única lágrima, pela queda do malfadado governo Sócrates (excepto talvez pela sua rapaziada mais próxima ou aqueles cujo "lugar" na vida dependa do aparelho do PS) que tantos apoios recebeu de Passos Coelho para se manter firme em direcção ao abismo.

Mas esse outro caminho, esse outro horizonte, essas outras políticas que o país e os portugueses reclamam, não são óbvios, não estão patentes. Precisam desenhar-se e apresentar-se, para que emerja uma alternativa consistente e credível, com apoios vastos e diversificados.

Eu acho não apenas que essa alternativa é desejável, como acho que é possível. Acho mesmo mais, que é um imperativo que uma nova oportunidade política tenha lugar em Portugal.

Na minha opinião, uma tal alternativa, só pode ter berço na esquerda parlamentar e na esquerda sociológica em unidade conceptual e de acção. Do que se trata é de construir uma solução de salvação nacional democrática e de esquerda.

Onde o PCP, o BE, Os Verdes, os sectores de esquerda do PS, os muitos independentes e as gerações à rasca se possam entender, num programa mínimo de mudança, apontando novas direcções de empenho e impulso nacional, trazendo para a vida política activa e responsável novos protagonistas.

Uma solução, onde nenhum partido, nenhum militante, nenhum independente, tenha de prescindir da sua identidade, mas onde todos possam dar algo de si, para uma convergência indispensável e urgente. Onde os valores maiores que são o país e as pessoas tenham efectivamente primazia, em detrimento das diferenças político-ideológicas que possam reconhecer-se e manter-se.

Portugal precisa de uma mobilização nacional, de uma participação civíca sem precedentes, de uma opção governativa completamente diferente, de um programa político de efectiva modernização, de medidas firmes e honestas de recuperação dos sectores produtivos nacionais, de uma relação não submissa com a União Europeia, de se emancipar da canga dos "mercados", de se libertar da obssessão do defícit, de reconstruir o orgulho nacional e a confiança no futuro como nação livre e independente.

Estes propósitos só são possíveis à esquerda e as esquerdas têm, neste momento histórico, a obrigação política, ética e moral de oferecerem aos portugueses essa alternativa e essa oportunidade.

Não se entenderá, se uma vez mais, questões menores, tricas e intrigas, não permitam viabilizar o diálogo construtivo, o empenho político e a gestação de uma outra opção, bem diferente daquelas que através dos últimos 30 anos nos trouxeram até esta desgraçada situação em que nos encontramos.

Fazer falta de comparência agora, negar essa possibilidade, transformará a esquerda portuguesa não apenas em refractária, mas mesmo numa esquerda infiel.

Espero iniciativas e esforços sinceros, para que não se deixe o país resumido aos rosas e laranjas do nosso descontentamento e da nossa desgraça.

6.3.11

Não se paga a chantagistas, nem a terroristas

Um dos jornais semanários (se calhar outros também) noticia que "os juros da divida portuguesa, tanto a cinco como a dez anos, quase não desceram depois da reunião de 4ª feira entre Sócrates e Merkel, em Berlim".

Ou seja, quer o Governo preste ou não as mais inacreditáveis vassalagens, quer os portugueses façam ou não os maiores sacrificios, quer se acabem ou não com os mais civilizados direitos sociais, quer se façam ou não alterações legislativas que eliminem as conquistas de Abril, quer o Cavaco ganhe as eleições ou não, a chantagem não acaba mais.

Não lhes basta a pele. Querem o sangue e o tutano. Querem a dignidade e a essência. Na verdade, como o terrorismo, querem o caos, o pânico, o terror.

São assim, os endeusados e benfazejos "mercados". Terroristas da mais fina estirpe e da mais sofisticada elaboração.

E há, neste país, quem seja diligente e dedicado aliado dos "mercados", que se bate galharda e empenhadamente para que nos submetamos. Tudo fazem e dizem para que achemos normal, natural, inevitável, sermos espezinhados e vilipendiados. Não são apenas traidores de primeira grandeza. São gente sem escrupulos, vendilhões de baixo coturno, prostitutos de beira da estrada suburbana.

Qualquer estadista, melhor, qualquer político de mediana integridade, já teria assumido a atitude certa: não se negoceia com terroristas, não se aceitam chantagens.

Qualquer governo que respeitasse o seu país e o seu povo e, sobretudo, as gerações vindouras, não se deixava submeter a uma chantagem como a que está em curso.

Qualquer polícia no mundo sabe que nos casos de chantagem, pagar a primeira vez ao chantagista, significa ficar dependente, significa ter de aceder a exigências crescentes. A chantagem só acaba quando se anula o chantagista, quando é abatido ou preso.

O cobarde governo, o vassalo primeiro-ministro, os ministros "bananas", não conseguem reunir, entre todos, um mínimo de coragem, de dignidade, de ousadia, para enfrentarem a crise terrorista-chantagista como tem de ser enfrentada ?

Tende a coragem, senhores, de proclamar e executar: ou páram as exigências ou não se paga nada a ninguém!

Os salteadores internacionais, neste terrorista processo de tomada de reféns, têm actuado impunemente com a conivência dos ditos nossos "amigos" europeus e atlânticos. Já agrilhoaram a Grécia e a Irlanda e - como quaisquer malfeitores encartados - não vão parar até os fazerem parar.

E no crescendo de exigências chantagistas, o que se configura já, não é obter um resgate pontual, mas antes garantir uma dependência duradoura e absoluta de rendas altas e submissão perene. No fundo, do que se trata, é de uma futura relação de natureza feudal.

Alguém neste país vai ter de ter a coragem de não pagar resgates a chantagistas insaciáveis. Como qualquer cão raivoso, enquanto a mão lhes der de comer à boca, morderão cada vez mais.