13.9.07

Um novo tempo: o dos círculos não circulares

No Concelho de Loures ocorre um estranho fenómeno que tenho vindo a procurar investigar nos meus parcos tempos livres. Na verdade, não consegui ainda obter uma explicação científica e por isso exponho publicamente as minhas dúvidas, porque pode alguém saber e se quiser fazer o favor de me explicar, poupa-me um tempo danado.

Já fiz incursões no domínio da física, quântica e nuclear. Interroguei especialistas em química. Indaguei reputados astrónomos. Passei a pente fino os últimos desenvolvimentos da geografia física e investigadores especializados em fenómenos naturais, sejam furacões, sismos ou vulcões. Matemáticos experimentados pronunciaram-se também, sem conseguirem ser clarividentes.

Mesmo nos domínios disciplinares das ciências sociais, como a economia – que explica tanta coisa – ou a psicologia ou a sociologia que estudam comportamentos individuais e colectivos, pouco se consegue de consenso científico. Nem a arqueologia, tantas vezes ponte de passagem a um passado que julgamos inescrutável, elucidou das suas descobertas da matriz humana sobre a terra, uma insofismável razão de ser da coisa.

Em desespero, olhei mesmo para a astrologia - que de ciência nada tem, mas devemos manter o espírito aberto não é ? – e nem de esguelha, nas cartas, nos ossos de galinha ou no óleo a ferver, encontrei fundamento da problemática.

Os únicos apoios objectivos que encontrei foi no domínio da língua: os dicionários.
Num deles, consegui esclarecer – pode dizer-se – cabalmente, o que significa esta conhecida palavra, que está na origem do estranho e recorrente fenómeno: ROTUNDA.

Vejamos a sua definição:

Rotunda
do Lat. rotunda, redonda
construção circular e terminada em cúpula redonda;
praça de forma circular ou semicircular
.

Semicircular
do Lat. semicirculare
que tem forma de semicírculo;
relativo a semicírculo.

Semicírculo
do Lat. semicirculu
metade de um círculo;
transferidor;


Círculo
do Lat. circulu
porção de plano limitada pela circunferência;circo; cinto; anel; aro; giro; área; circunscrição territorial;


Parece pois poder concluir-se a um nível linguístico que rotunda será uma construção circular ou, pelo menos uma porção de plano limitada pela circunferência.

Esclarecido o que é uma rotunda, restava esclarecer, evidentemente, porque é que nem sempre é assim e, em particular, porque não é assim em Loures. Pois quem venha de um qualquer outro município ou país habituado a esta regra – pelo menos linguística – verá que não se aplica no Concelho de Loures.

Aqui, as rotundas ou não são construção circular ou podem mesmo ser construção triangular, bicuda, hexagonal ou uma qualquer outra forma decorrente de uma avanço matemático-científico só ao alcance de engenheiros, arquitectos ou empreiteiros à beira da falência visionários. Também Presidentes de Junta e similares têm tido excelentes contribuições na definição de interessantes formatos de… rotundas.

Neste inventivo processo de recriação científica, urbana, urbanística e circulatória tomam parte activa e promocional a Câmara de Loures e a EP - Estradas de Portugal, instituições públicas muito dadas a apoiar os novos valores da geometria avançada.

Ao que consegui apurar, basta que um processo urbanístico ou de alteração viária chegue a uma destas entidades para que imediatamente: 1. Se confirme se tem rotundas previstas (se não tiver, terá de ter); 2. Se as rotundas previstas forem redondas têm de assumir outra forma qualquer (se não o processo empanca).

Dizem-me que são estes processos dinâmicos que levam à evolução científica, social, política, económica, cultural e coisa e tal. Como Pombal, que quis avenidas largas e hoje reconhecemos o bem que fez, também os decisores de agora na Câmara de Loures e na sucedânea da Junta Autónoma das Estradas querem e estão a fazer história.

Abriram, logo na nossa terra (podiam ter ido inventar para outro lado, não era?!), um novo tempo e uma nova dimensão para a matemática moderna, uma verdadeira ruptura epistemológica: os círculos não circulares.

Só me apetece proclamar, como qualquer presidente de comissão de festas da aldeia: Um grande bem hajam!


Vejam-se alguns exemplos, de norte para sul:


Santa Iria da Azóia, ligação da EN 10 com o IC2, frente ao Hotel VIP

O que devia ser uma rotunda, é um monte de triângulos, decorados com mato e uns semáforos. Uma beleza para a fluidez do trânsito e para a promoção turística do Concelho. Qualquer um fica deslumbrado...



Bobadela: rotunda em construção para ligar o Bairro da Petrogal à EN 10.

Lindíssima, fino recorte, embora não consiga ser circular.Quem é que escreveu no projecto que seria uma rotunda ?!



Bobadela: ligação da EN 504 à EN10, junto à ponte do Trancão.

A Estradas de Portugal exigiu uma rotunda. Obtiveram-se umas formas criativas interessantes: bicos, arredondados nas pontas. Excelente!

Sacavém, ligação ao Prior Velho e Camarate junto à Courela do Foguete e Quinta do Mocho.

Um verdadeiro arrojo conceptual. Um círculo alongado para os lados que sobe e desce, ginga e salta e quase dança a rumba. Sem paralelo.


Caso se justifique, dispomos de mais alguns exemplos que podemos fornecer a estudantes e investigadores interessados, cidadãos participativos e políticos intervenientes...