19.10.14

Alerta: apenas temos 2 dias de água



Passou completamente despercebido na comunicação social portuguesa, a circunstância civilizacional de, no passado dia 19 de Agosto, se ter virado, suicidáriamente, uma preocupante página na história da humanidade: o Homem passou a estar em défice ecológico com o Planeta.

É uma questão magna, cuja omissão e ocultação, não me parece nada inocente. Contudo, em Portugal, anda-se entretido com os resultados do futebol, os cínicos pedidos de desculpas de ministros incompetentes e os absurdos debates Costa/Seguro.

Ao mesmo tempo, perante a quase generalizada indiferença dos cidadãos, o governo português força a injustificada privatização da EGF, empresa responsável por parte importante da recolha e tratamento dos resíduos sólidos urbanos no nosso país. A questão é que nem toda a gente sabe ou está atenta, ao facto de a EGF ser uma sub-holding da muito mais apetecível Águas de Portugal. E é exactamente a Águas de Portugal que é o objectivo a atingir, ou seja, o que se quer mesmo é privatizar a água em Portugal, numa miserável agenda ideológica que pretende privatizar tudo, mas especialmente a água, por muitos considerada o “petróleo do séc. XXI”.

Como bem se compreende o epiteto de petróleo do séc. XXI não é uma denominação aleatória, antes se funda no facto de a água significar muito lucro e poder, muito poder. É isso que faz com que a água – composto químico único essencial à sobrevivência das espécies e, principalmente, da humana – seja hoje o principal foco de interesse daqueles que veem nela o principal instrumento de dominação futura.

Uma nota mais, reveladora, sobre quem são os principais interessados e agitadores da marcha forçada para a privatização da água em todo o mundo: o Banco Mundial, o FMI e a União Europeia, que uma vez mais, demonstra inequivocamente ao serviço de quem se põe, sistematicamente.

Em Portugal – embora muita gente inconscientemente pense que não – estamos na eminência de uma dramática escassez de água. Não é coisa de televisão que apenas acontece aos outros. Recorde-se que os 3 principais rios que cruzam o território nacional, Douro, Guadiana e Tejo, e que são cruciais para o abastecimento de água ao país, correm de Espanha e deixam-nos particularmente dependentes. Só temos água armazenada para 2 dias, repito, 2 dias.

Ainda alguém se lembra que aqui há uns anos, Espanha reduziu substancialmente os caudais e os rios em Portugal pareciam ribeiros à beira da extinção ? Percebe-se melhor assim, porque é tão perigosa a privatização da água ? Por causa do poder de abrir e fechar a torneira para quem se quiser, quando se quiser.

Paralelamente, à absoluta oposição à privatização da água, impõe-se uma campanha nacional de informação às populações sobre a necessidade de preservar rigorosamente este bem escasso e essencial, bem como tomar medidas operativas para acabar com o desperdício. Só em Loures, no final do reinado da gestão PS, as perdas na rede estimavam-se em 40%. É uma cifra escandalosa e temerária.
Um governo a sério, aproveitaria o próximo ciclo de fundos europeus para fazer o que é preciso e urgente no domínio da água, enquanto recurso indispensável e tão ameaçado como está. Privatizar, como suposto instrumento de gestão, não passa de um grave crime lesa-pátria.
 
publicado em Notícias de Loures, nº 6, Agosto 2014
 
 

Fénix mal nascidas



Nesta época do ano, nunca percebi porquê, costumamos ter, jornalisticamente, a denominada silly season, nalguns anos de mais calor, interrompida pela “época dos fogos”, onde á mistura com toda a tolice, assistimos a comandantes, a jornalistas, a políticos e a comentadores, a “toleirarem” sobre fogos, tácticas de combate, informativos números operacionais: “envolvendo 17 viaturas e 50 operacionais…”, negócios de helicópteros bombardeiros e outras parvoeiras recorrentes, para se concluir, que para lá do afã informativo e opinativo, ardeu tudo na mesma, ano após ano.

Este ano, pelas condições climatéricas, não tem havido fogos florestais substanciais e atearam-se umas fogueiras para inflamar a quadra. Uma das fogueiras, mais que justificada, teve como comburente ter-se chegado a esta época e a promessa do Governo (mais uma não cumprida) e não terem sido distribuídos os equipamentos de protecção individual, para que os “soldados da paz” cumpram em segurança a sua missão. Lamentável e revelador…

O outro fogacho noticioso que me chamou a atenção, foi o conflito nos Bombeiros Voluntários Flavienses entre uma parte (é quase sempre só uma parte) do corpo activo e a Direcção da Associação. Não pelo caso em concreto, cujos contornos desconheço e a comunicação social nunca aprofunda, mas porque simbolicamente representa aqui, o sem número de casos idênticos que têm lugar, todos os anos, ao longo do país.

E é isto que convida à reflexão e que induz à questão sobre se o quadro legislativo que enquadra a Protecção Civil e os Bombeiros, se a organização dos Bombeiros e as suas diversas hierarquias e reportes, se a sua distribuição no território, se os métodos de trabalho (não falo de tácticas operacionais, porque disso nada percebo) estão em consonância com as necessidades e se proporcionam a “paz” devida a estes “soldados” da comunidade, sejam eles voluntários ou não.

Como não sou, nem nunca fui Bombeiro, apenas observador do fenómeno, leva-me a considerar que toda a orgânica que envolve os Bombeiros e Corporações, Liga e Federações, Associações e Câmaras Municipais, Autoridade Nacional e Governo é uma embrulhada, uma teia densa, ineficaz e imprópria, propiciadora de conflitos, fomentadora de negociatas, indutora de comportamentos corporativos, desagregadora dos laços de solidariedade, que deviam presidir à acção dos Bombeiros, sempre.

O processo de nomeação e destituição dos Comandantes, bem como, o papel central que têm em funções é, quer parecer-me, uma esfera a precisar rapidamente de profunda revisão e num sentido que para mim é claro, terem de estar subordinados à Direcção da Corporação e não constituir unipessoalmente um “orgão”, de bicefalização do poder na Associação. As Direcções são eleitas democraticamente e têm a legitimidade corresponde, os Comandantes não.

Acredito que é também por isto, embora não só por isto, que existe um grau de conflitualidade elevado, uma tensão perniciosa permanente entre Corpo Activo e Direcção nas Associações de Bombeiros.
Voltarei ao tema, porque há muito mais para dizer. As Fénix mal nascidas precisam renascer, mas organizadas de outra forma…

publicado em Notícias de Loures, nº 5, Julho 2014