7.3.15

Agora, o rumo – parte II



Enquanto escrevia esta segunda parte de “Agora, o rumo”, chega-me a notícia que o executivo municipal lançou “Loures em Congresso” que pretende – segundo a autarquia – “ser um espaço de discussão, participado e sustentado, que permita, no futuro, a definição do plano estratégico para a gestão da Autarquia nos próximos 10 anos”.
 
Trata-se, evidentemente, de uma iniciativa que saudo e que vem corresponder aquilo que vinha propondo, pelo que fico satisfeito e, evito, para já, outras considerações e sugestões que me preparava para fazer. Salto, assim, para a visão que tenho, daquelas que devem ser as opções que se oferecem ao Município de Loures, neste momento e contextos, local, regional, nacional e internacional.

Comecemos pela ideia central e primordial que defendemos para a próxima década: TRANSIÇÃO PARA A SUSTENTATIBILIDADE

E de que sustentabilidade(s) se trata ?
 
·         Da sustentabilidade económica do Município, da preservação e incremento da sua capacidade de investimento;

·         Da sustentabilidade do tecido económico, pela sua evolução, consolidação, alargamento e inovação;

·         Da sustentabilidade ambiental e energética;

·         Da sustentabilidade do território, pelo equilíbrio nos usos e ocupação, a requalificação e valorização;

·         Da sustentabilidade demográfica;

·         Da sustentabilidade social, cultural e educativa;


A “ideia”, o “conceito”, a “causa maior” que se tem, será, pois, a de um Município apostado na qualificação global e no conhecimento científico, onde a educação e a cultura são pressupostos essenciais e, naqueles domínios, se constituam as âncoras do desenvolvimento local e do bem- estar das populações. Vislumbra-se, a oportunidade de:

·         Atrair actividades e empresas de valor acrescentado, qualificando o tecido económico;

·         Promover emprego, emprego qualificado e emprego altamente qualificado;

·         Promover, impulsionar e desenvolver o conhecimento científico, técnico e tecnológico, com base nas empresas e instituições instaladas e procurando acolher outras, bem com o interesse das Universidades e instituições de base científica;

·         Assegurar recursos suficientes para o exercício das atribuições e competências da Câmara Municipal de Loures;

·         Conferir à população e às jovens gerações uma base educativa, científica e cultural sustentada;

·         Defender e proporcionar um quadro territorial e ambiental sustentável;

·         Resistir e inverter as visões depreciativas do Planeamento Regional para Loures;

·         Adoptar uma política de contactos internacionais directos para partilhar, intercambiar e ancorar o rumo estratégico adoptado.


publicado no Notícias de Loures, nº 11, Março 2015

4.3.15

Agora, o rumo – parte I



Julgo ser pacífico que nos nossos dias os Municípios portugueses, precisam escolher um rumo estratégico para as suas políticas, tendo em vista estarem em condições de corresponder às necessidades dos seus munícipes.
 

Impulsionar economicamente a sua esfera territorial, com a tão necessária geração de emprego, investir na cultura, na educação, no ambiente ou em quaisquer outros domínios, requer meios, que escasseiam, e hoje, mais do que nunca, estando como estamos, numa camisa de forças austeritária, sob o alto patrocínio de um incontável governo subserviente.
 

Se uns conseguem definir o seu caminho com “naturalidade”, porque ou têm praias, ou têm floresta, ou têm quaisquer outros factores estruturais distintivos que “naturalmente” podem potenciar, muitos há que precisam reflectir, interpretar o contexto, definir com clareza objectivos de médio e longo prazo e estabelecer um rumo para lá chegar.
 

Queiram ou não, estão em concorrência com os demais, pelo desenvolvimento económico, pelo emprego, pelo investimento (não necessáriamente externo, mas também), por fundos europeus, pela capacidade de proporcionarem acrescidas condições de vida e bem-estar às suas populações. Os Municípios ineptos, incompetentes ou retardados a iniciar a marcha, ficam inevitavelmente a perder.
 

O Município de Loures, apesar da sua localização geográfica, junto à capital do país, teve de dedicar décadas a recuperar do atraso estrutural em que o fascismo o deixou. Teve de se adaptar rapidamente nas décadas de 80 e 90 a um crescimento impulsivo e irreflectido da Área Metropolitana de Lisboa de que foram pedra de toque a Ponte Vasco da Gama, a EXPO-98 e todo o conjunto de vias que tiveram um substancial impacto no território e ainda o PER, que condicionaram fortemente as direcções do investimento municipal.
 

Espantosamente, o novo século, acabou por determinar, uma nova fase, mas de paralisia e anomia, ausência de ideias e ambições colectivas (que as pessoais e particulares não falataram), de projecto ou de rumo. O período 2001-2013, por todas as suas circunstâncias, que deveria ter sido o período de lançamento das bases de um designío municipal, para a sustentabilidade e progresso da nossa comunidade, foi um tempo de desorientação e desgoverno.
 

É por isso que, agora, não se pode continuar a atrasar o indispensável.
 

É certo que é incontornável recuperar a credibilidade da Câmara Municipal, é verdade que é preciso pagar as dívidas que o anterior executivo deixou, é evidente que é urgente pôr a máquina municipal a funcionar para os munícipes e não para si própria, é claro que se está obrigado a ponderar muito cautelosamente todos os investimentos, obras e iniciativas, mas parece-nos que estabelecer rumo e objectivos será a melhor forma de assegurar que as iniciativas, obras e investimentos, mas também a reconfiguração da estrutura municipal e a credibilidade municipal, se conjuguem já num sentido certo e seguro. Isso há-de facilitar a missão e aligeirar a tarefa. Correr em todas as direcções, sob o pesado manto da incerteza, afigura-se-nos pior, mais trabalhosa e menos rendosa opção…
 

Voltaremos ao tema, na parte II.


publicado em Notícias de Loures, Fevereiro 2015

Os portugueses têm que se decidir



Os portugueses apresentam-se fartos e enfastiados com, o que se usa agora dizer, a “classe política”, expressão que me parece pouco inocente, porque se destina a acantonar todos os que desenvolvem actividade política, num mesmo “saco”.
 

A maioria é suficientemente inteligente e informada para saber que os políticos não são todos iguais, que os partidos não são todos iguais. Uma minoria, ou ignorante, ou ostensivamente desinformada ou ainda simplesmente seguidista, limita-se a papaguear o que ouve outros dizerem, sem a menor reflexão sobre o que está a reproduzir e o contexto que a envolve.
 

Governados há mais de 35 anos pelos denominados partidos do “arco do poder”, os portugueses manifestam crescente repulsa por quem os governa mas, eleição após eleição, repetem maioritáriamente o voto naqueles em quem já haviam votado antes e por quem vão sentindo crescente aversão, o que a partir de determinado momento, começa a ser muito difícil de entender.
 

Os portugueses queixam-se amargamente, uma e outra vez, de terem sido enganados, mas a cada vez que vão votar, parecem padecer por uma absurda atracção pelo abismo. Insistem nas soluções de sempre, afinal, aquelas de que se queixam amargamente. Como é que se pode perceber isto ?
 

Não pode ignorar-se a manipulação e condicionamento que o “sistema” faz sobre os cidadãos e sobre os eleitores. Todos os dias, a todas as horas se repete “que não alternativa”, de que sem os mesmos de sempre, será o caos, de que todos os outros são piores do que aqueles que têm exercido o poder.
 

Mas é caso para perguntar, como pode achar-se que são todos iguais, se só se conhecem alguns ? Como podem os portugueses acreditar que os outros são piores, se nunca os viram governar ? Enfim, como podem pessoas que se supõem inteligentes deixar-se submergir em mistificações tão grosseiras ?
 

Quem foi que nos trouxe das imensas esperanças do 25 de Abril a este estado comatoso em que o país se encontra ? Quem foram aqueles que governaram os imensos recursos que o país recebeu da União Europeia e o deixaram cheio de dívidas e problemas ?
 

Querem os portugueses ter “segurança” no que os espera, mesmo que isso, seja o pior que lhes pode acontecer ? Nesse caso, têm tido a “segurança” que pedem e escolhem. A vida tem sido “seguramente” pior a cada ano que passa, para um crescente número de jovens, idosos, desempregados, licenciados, doentes, estudantes, trabalhadores por conta de outrém e pequenos e médios empresários.
 

Os portugueses têm que se decidir, porque é impossível querer uma coisa e simultâneamente o seu contrário. Isso não existe. Como não faz sentido não querer exactamente o que escolhemos. Só às crianças de tenra idade e personalidade não consolidada são permitidas tais imaturidades.




publicado em Notícias de Loures, Janeiro 2015

Municipalização da Educação ?




Evidentemente, um disparate.

Uma municipalização da educação só pode passar pela cabeça de alguém por duas ordens de razões: cretinice ou ideologia.

Quanto à primeira, o assunto não merece grande debate. A cretinice poderá revestir vários formatos, alguns até chico-espertos, mas na essência, corresponde aquela convenção do QI não superior a 50.

Já a questão ideológica tem outro alcance. Também temos os imbecis, predispostos a aceitar certo tipo de “verdades” e engolir qualquer coisa desde que venha do “clube” do seu coração, mas esses são irrelevantes para esta questão, como o são para as demais. E temos os outros, defensores conscientes destas soluções, que habilmente mascaram com um argumentário estudado com cautela, os seus verdadeiros propósitos.

Esses propósitos, tragam a roupagem que trouxerem, resumem-se a uma ideia: reproduzir a situação, assegurando que os mais poderosos o sejam cada vez mais e que todos os outros se limitem a trabalhar muito e a sobreviver pouco, para garantir o status quo social e político.

Para tal desiderato, é indispensável que o ensino público de qualidade seja destruído, para justificar a privatização que, em si mesma, já é uma importante condição de rendimentos para uns quantos.

Privatizar o ensino, é um ariete ideológico, no sentido em que permite um “controlo social” pelos socialmente mais poderosos, sobre a quantidade e qualidade dos indivíduos que podem ter acesso a boa educação e que, ideologicamente adestrados, terão a missão futura de assegurar a reprodução do sistema.

E o que está na cogitação dos ideólogos da municipalização não é outra coisa, se não isso. Primeiro gera-se o caos no ensino e faz-se dele uma caricatura, depois critica-se a caricatura, o que sustentará a entrega à “competência” dos privados, a governação dessas incómodas coisas que são a educação, a investigação, o conhecimento, o saber, quando não controladas por aqueles que se querem assegurar que tudo fique na mesma, para sempre.

Há municípios, presidentes de câmara e vereadores que, por cretinice uns, e por razões ideológicas outros, aderem à ideia com o argumentário mais provinciano e ignóbil que se pode ouvir a um autarca. Se calhar, não se arrependerão nunca do dislate, porque serão gente para quem uma qualquer réstia de um “poderzinho”, muito os compraz. O “magno” poder de “comandar” os professores e lhes “ditar” a matéria a leccionar, é algo que os embebeda, porque, ignorantes cabotinos, se sentirão como se fossem sábios atenienses.

Infelizmente, temos também de estar atentos aqueles que, dizendo opor-se a este rumo desgraçado, actuam quotidiana e inconscientemente, a seu favor.

O centro das políticas de educação têm de ser sempre os alunos e as famílias. Todos os demais intervenientes no processo educativo, altamente respeitáveis, são subsidiários. Nenhuma autarquia deve aceitar substituir-se ao Estado, alinhar em politicas corporativas, observar acriticamente projectos educativos em que não é parte activa ou limitar-se a fornecer recursos ao sistema educativo que constitucional e legalmente cabe ao governo assegurar.
 
A municipalização da educação é um disparate. A esquizofrenia municipal a este respeito precisa rapidamente de tratamento.

publicado em Notícias de Loures, 2014

Ei-los que partem…




Ei-los que partem

novos e velhos

buscando a sorte

noutras paragens

noutras aragens

entre outros povos

ei-los que partem

velhos e novos (…)

É a primeira estrofe de um poema de Manuel Freire, que o próprio musicou e cantou, a propósito da malfadada emigração a que os portugueses estiveram sujeitos, por falta de condições de subsistência no país, durante décadas. Foi uma época, que levou uma imensa massa de portugueses, a procurarem noutros países toda a espécie de trabalhos, que lhes assegurassem a sobrevivência.

Em pleno século XXI, depois da revolução de Abril, depois da adesão à “europa rica”, choca e revolta que tenhamos voltado anos e anos para trás. Não há semana que não nos chegue ao conhecimento que mais um amigo, mais um familiar, mais alguém que nos é próximo, rumou ao estrangeiro, para começar ou recomeçar uma vida, para poder estudar ou trabalhar, para poder investigar ou ser profissionalmente reconhecido.

Esta é uma outra época, outra realidade, outras circunstâncias, mas ei-los que partem! E partem por razões semelhantes às de outros tempos: a falta de condições no país que é o seu, que amam e para o qual a maioria quer voltar, mas a respeito do qual cada vez têm menos esperança.

Uns, indignados, escreveram cartas públicas ao mais, retrógado e atávico Presidente da República pós-Abril de 74, outros lamentam ter de abandonar os seus e a sua comunidade, alguns protestam. Debalde. Os actuais governantes, meros mercenários dos poderes financeiros, missionários de uma demanda ideológica só comparável aos fascismos, não apenas fazem por ignorar, como tomam todas as medidas que podem para expulsar os melhores de nós, os mais qualificados, o futuro do país.

E vêm, recorrentemente, com cínicos e melífluos apelos a “pactos de regime”, cujo propósito não é outro que não o de tentar garantir apoio a inomináveis velhacarias. Para garantir a “sustentabilidade da segurança social” dizem eles… Garantir todas as sustentabilidades que o país precisa, é assegurar que as novas gerações tenham condições de estudar, de se formarem e de cá trabalharem, tudo o mais são fingimentos e mistificações para enganar os incautos.

O que este governo e este presidente da república estão a fazer aos nossos filhos enoja-me e com isso me envergonham, como pai, como contribuinte, como cidadão, como eleitor, como profissional, como português.

Aqui ficam dois apelos. O primeiro, aos portugueses, para que não deixem que isto continue a acontecer e expulsem, agora sim, estes meliantes políticos que promovem a fuga dos mais habilitados e jovens de nós. O segundo, às autarquias locais para que na medida dos seus minguados recursos e cada vez mais cerceada autonomia, apostem em projectos de educação, cultura, conhecimento científico, inovação, comércio justo e empresariado responsável, como forma de atenuar os desgraçados efeitos destas políticas governamentais.

publicado em Notícias de Loures, 2014