3.5.05

Sacavém, Cidade a Sério.

Um destes dias, por qualquer inexplicável razão que não consciencializei, dei comigo a observar Sacavém com um renovado sentido crítico, procurei colocar-me de fora e olhar para dentro… e senti um choque. Acabei invadido, por uma amarga tristeza e um palpitante sentido de revolta: Estão a destruir a minha terra!

Procurei referências e recordações, desejei identificar o momento inicial da decadência, encontrar os culpados, acusá-los, pública e sonoramente, povoar-lhes os pesadelos.

Superada a exaltação inicial, verifico que o processo de qualificação da Cidade que já estava em marcha - após a profunda depressão dos anos 80 -, foi recentemente interrompido, há poucos anos, que nem tudo está perdido, que há muito por fazer e muito pode ser feito se se interromper já este ciclo destrutivo.

O papel desempenhado pela Câmara Municipal de Loures até 2001 com o apoio da Junta de Freguesia até 1997, em Sacavém, havia dado rumo digno ao problema da Quinta do Mocho, iniciou a despoluição do Trancão, viabilizou intervenções urbanísticas de qualidade, construiu o Museu da Cerâmica, ergueu o Parque Desportivo Alberto Azenha, negociou e obteve do Governo a construção do Pavilhão da Escola Bartolomeu Dias, candidatou-se e ganhou para Sacavém, apoios comunitários através do programa PROQUAL para a qualificação urbana da Cidade, projectou e iniciou o Plano de Salvaguarda de Sacavém e o Plano de Pormenor da Salvador Allende, começou a renovação do parque escolar, com a completa remodelação da “Escola dos Bombeiros”, abriu o Gabinete de Atendimento à Juventude e conquistou com a EXPO-98 melhores acessibilidades, a requalificação paisagística da foz do Trancão e a expectativa de uma frente para o Tejo, de qualidade, fruição e novas actividades.

Agora, temos uma Cidade de regresso à depressão. Um estacionamento inenerrável, um trânsito caótico, a emergência de abortos urbanísticos no meio da Cidade, sem integração nem propósito, o Palácio Barroco e a Quinta do Alexandre a caírem, mercados decadentes (que podiam ter ser substituídos por um mercado novo, com o apoio do PROQUAL, mas que a Junta de Freguesia não quis), a actividade económica e comercial aflita e sem perspectivas, um Jardim que só pode manter esse título por tradição, uma frente ribeirinha para o Tejo a ser vertiginosamente ocupada por mais e mais habitação, os passeios ocupados por florestas de sinais de trânsito e placas indicativas, novas e velhas, semeadas a esmo, ruas sujas e degradadas, entradas da Cidade próprias dos países mais pobres do mundo…

… E um mundo de promessas por cumprir: Nem notário, nem piscina (a tal que deu azo a uma cenaça eleitoralista entre os actuais Presidentes da Câmara e da Junta, com a assinatura de um protocolo fictício para uma piscina a fingir), nem novo Centro de Saúde, nem ligação de Sacavém à 2ª Circular, nem nova Escola na Quinta do Mocho, nem mais apoios às Associações locais, nem modernização da rede de abastecimento de água, nem instalações condignas para os serviços da Segurança Social, nem respeito pela legislação da mobilidade e acesso aos serviços públicos dos cidadãos portadores de deficiência, nem, nem, nem…

O espaço do Jornal não chegaria para dizer tudo. É o grito de alma que fica, para reflexão dos sacavenenses, mas também o convite para que façamos de SACAVÉM, UMA CIDADE A SÉRIO.