24.6.08

Loures também (não) tem Tejo


Se é certo que o modelo económico-financeiro e de gestão territorial da EXPO-98/Parque das Nações suscitou as maiores dúvidas e reservas que o tempo se encarregou de confirmar como aspectos problemáticos e questionáveis, não é menos certo que a zona oriental de Lisboa e de Loures foram varridas por um vento de esperança e, porque não dizê-lo, de efectiva requalificação.

São agora vários os problemas emergentes, mas nada que não tenha (ainda) solução ou, pelo menos, ainda se está a tempo de fazer muito melhor. A zona do Parque das Nações foi no passado e é hoje uma zona de fronteira entre Loures e Lisboa. Uma fronteira que precisa, em parte, ser acertada, negociada e definida, mas que inquestionavelmente ali se localiza. Loures e Lisboa estão portanto incontornavelmente juntos, associados, contínuos.

Os problemas foram no passado comuns. São comuns no presente em vários aspectos. Será portanto de admitir que as soluções a encontrar sejam também partilháveis e partilhadas.

Têm o Tejo em comum. Uma frente ribeirinha magnífica. Uma paisagem excelente sobre o riquíssimo estuário e a margem sul. Um potencial turístico invejável. Uma oportunidade incomparável de proporcionar às respectivas populações, às novas gerações, o usufruto e o deleite do acesso e partilha do Rio. Condições invejáveis para estabelecer ligações cicláveis e pedonais, corredores verdes, transportes públicos alternativos, acções conjuntas de valorização e protecção do Rio e do Estuário.

Têm para enfrentar os mesmos perigos, os mesmos desafios e as mesmas ameaças: as ocupações portuárias (nada que não se resolva com bom senso e equilíbrio) e a voracidade urbanística-armazenística que vem ocupando das piores formas possíveis todas as nesgas de terreno com o máximo de construção possível, com o máximo de ocupação possível. Enfim, têm para enfrentar o regresso a uma “nova” desqualificação, mais “limpa”, mais “disfarçada”, mas efectiva. Os muros de betão e de contentores estão já aí em todo o seu esplendor.

Dificilmente se percebe como é que o Governo assina um Protocolo com o Município de Lisboa para a frente ribeirinha de Lisboa e deixa de fora Loures e Vila Franca de Xira. Podia ser apenas falta de visão estratégica, mas suspeito que seja mais do que isso. Que interesses bem mais mesquinhos tenham presidido e orientem a iniciativa política. As embrulhadas são mais que muitas de que a recentíssima demissão do (até agora) providencial J. M. Júdice é apenas um episódio.

A concepção e gestão desse processo veio – quanto a mim – pôr em evidencia que: a) Não há visão estratégica no Governo; b) Outros interesses, que não os públicos e colectivos, são o substrato do Protocolo entre a Câmara de Lisboa e o Governo; c) António Costa confirma uma vez mais o que tenho dito a propósito da sua actividade autárquica: como autarca é medíocre; d) Com a actual gestão municipal em Loures, o Município não é levado a sério, não conta para nada e nem os colegas de partido no Governo e na Câmara lisboeta se lembraram de contar com Loures para um processo de tanta importância para a área metropolitana de Lisboa norte; e) Loures, com esta gente, estará destinada a acolher na sua quota de frente ribeirinha as actividades que o Governo e Lisboa quiserem remover da Capital, para dar lugar aos condomínios de luxo a que apenas alguns (muito poucos) terão acesso.

Por isso, é indispensável lembrar que LOURES TAMBÉM TEJO.
(artigo para e a convite de http://www.antreus.blogspot.com/ )