13.7.07

Tantos olhos, vistas curtas!

Teremos no próximo domingo eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa. Não sou eleitor em Lisboa, mas ninguém pode ser indiferente ao que se passa na Capital (embora haja para aí um projecto do Eng. Carlos Teixeira para mudar a capital para Loures, não é?).

Vi, necessáriamente, a campanha eleitoral à distância, pelo que certamente não me foi possível apreender todas as propostas dos candidatos. Não tive oportunidade de conhecer nenhum programa eleitoral, se algum dos candidatos o tem.

Contudo, fiquei muito preocupado. Apesar das eleições serem intercalares e portanto, o mandato a cumprir antes de novas eleições, ser de apenas 2 anos, não será de crer que qualquer dos candidatos não ambicione, ganhar nestas, para também ganhar nas próximas. Portanto, será de admitir que as candidaturas têm pelo menos um horizonte de 6 anos e não apenas de 2.

Nesta circunstância, o que para mim avultou desta campanha, foi uma confrangedora ausência de visão estratégica, que considero relevante em qualquer município e, por maioria de razão, no município Capital.

É claro que o debate em torno do aeroporto e o futuro da Portela é muito importante, mas no plano municipal a discussão está de pernas para o ar. Ou seja, antes de mais, importa discutir que Capital, que Cidade se quer para o futuro e então depois fazer as opções parcelares que conduzam ao objectivo e não o contrário. Por exemplo, se se ambicionar uma Cidade apostada no turismo, num centro de negócios, então se calhar trará alguma vantagem o aeroporto dentro da Cidade. Mas o mesmo é verdade se se pretender uma Cidade de Cultura ou um Exemplo Ambiental ?

Quais são as "utopias" dos candidatos? Não percebi. Que visão estratégica apresentam ? Não percebi.

Alguns ainda titubearam umas desconexas tiradas sobre a "competitividade" com Madrid ou Barcelona, mas que mais me pareceram, a reprodução automática de um discurso confuso que ouviram ou leram algures e, sobretudo vazias de conteúdo. O que á afinal lá isso da "competitividade" ? Competir em quê ?

Alguém ouviu aos candidatos outra coisa que meras iniciativas que me atrevo a classificar de paroquiais ? Os grandes problemas da Cidade, são a desertificação do seu centro e dos bairros históricos, o trânsito caótico, o sistema de transportes, o estacionamento, o emprego e a sua qualidade, a poluição, a especulação que origina a construção habitacional desenfreada muito para além das necessidades, entre outros, que têm uma característica em comum: não são passíveis de resolução apenas na Cidade, no Concelho de Lisboa.

São temas e problemas que dizem respeito e se resolvem no âmbito da área metropolitana, que precisam envolver os municípios a norte e a sul do Tejo, que requerem a sua participação activa, cooperante e mutuamente vantajosa. Lisboa tem inevitavelmente de subir para o pedestral da sua capitalidade, mas não pode ser sobranceira e ignorar ou subalternizar os demais municípios metropolitanos. Todos têm a dar e a receber da Capital. Os futuros responsáveis políticos de Lisboa não podem ignorar isto.

Os candidatos ignoraram. Lamentavelmente.

Foram 12 as candidaturas, portanto muitos candidatos, muitos cérebros, muitos olhos. Infelizmente, só me apercebi de vistas curtas. Tímida excepção para a candidatura de Ruben de Carvalho que faz uma "urgente" referência ao cariz metropolitano das opções políticas a tomar.

E não me consigo esquecer que quando António Costa foi candidato em Loures, colocou na minha caixa do correio um panfleto em que me propunha que eu lhe comunicasse, se ele fosse eleito Presidente da Câmara, se havia um buraco na minha rua, um passeio estragado ou uma sarjeta entupida que ele resolveria logo o problema...

Era deste quilate a visão que tinha para Loures. Será uma gestão "tipo Costa" que tornará Lisboa uma Cidade competitiva ? Será esta abordagem que resolverá as grandes questões da Cidade ?

Como sou de fora, permito-me usar 3 votos: 1. Neste quadro de sofríveis candidaturas, voto para que nenhum candidato tenha maioria absoluta; 2. Voto para que seja possível a formação de uma maioria que pelo menos não estrague mais; 3. Voto, para que daqui a 2 anos, possam haver candidaturas credíveis, que pensem grande e olhem largo, respeitem e mobilizem pela causa da Cidade os lisboetas e os seus visitantes.

Acredito que com uma Capital melhor, viverei melhor em Loures.