21.6.07

Adeus tristeza…



Adeus tristeza, até depois
Chamo-te triste por sentir que entre os dois
Não há mais nada pra fazer ou conversar
Chegou a hora de acabar


Invoco o poema de Fernando Tordo, porque está dito pelo poeta, aquilo que quereria dizer e não seria capaz com a simplicidade e força com que ele o faz.

Infelizmente, a minha tristeza é a minha terra, a minha Cidade. Sacavém.

Por circunstâncias da vida que não vêm ao caso, há 2 anos que deixei de residir em Sacavém. Foi uma decisão difícil. Por muito racional e pragmático que se seja em tais ocasiões, a emoção, os sentimentos e a afectividade, quase sufocam a razão.

Não duvido que decidi bem. Venceu a razão e ainda bem. Muitos factos e acontecimentos posteriores vieram comprová-lo. Para além disso, aquando da decisão, estavam encontrados “factores de compensação”, porque afinal iria continuar a trabalhar em Sacavém, ali vive a maior parte da minha família, por ali estão os amigos, lá perduram as instituições que me ajudaram a ser a pessoa que sou, em especial o Sacavenense e o Partido.

Costuma dizer-se que as pessoas passam e as instituições ficam. Assim é. Não perdi e não perco todo o respeito, admiração e afecto por estas instituições. A nenhuma viro definitivamente as costas. Como disse, ajudaram-me a ser quem sou. Isso não é coisa que se renegue. É como se ficasse gravado no nosso código genético…

Contudo, as instituições, estas instituições são, as pessoas que as compõem, aqueles que as moldam, as que lhe dão dinâmica, vida e objectivos.

Com o progressivo desaparecimento ou afastamento, por razões de idade ou outras, das figuras de referência destas instituições, vejo hoje instalar-se e sedimentarem-se os problemas gerais da Cidade, o que me causa enorme desapontamento.

Os herdeiros em funções revelam-se as mais desajeitadas e grosseiras imitações dos velhos dirigentes e activistas. Ao contrário destes, sem alma e sem vontade, sem imaginação e empenho, sem causas nem objectivos, parecem obscuras comissões liquidatárias.

As entidades que eu esperava - tive essa expectativa, se calhar forçada pelo afecto - poderem vir a ser o contrabalanço na desgraçada situação da minha terra, estão como ela: tolhidas, sombrias, entristecidas, apagadas, apenas sobreviventes. Como se estivessem ligadas a uma máquina invisível de suporte à vida, que as medica, alimenta e fornece oxigénio, mas ainda assim não as liberta do estado comatoso.

Mantêm-se vivas porque não podem morrer. Estão quase mortas porque são incapazes de viver.

E este é o meu ponto de ruptura emocional e psicológico.


Apesar da contínua degradação da vida da Cidade, seja qual for o ponto de vista que enfoquemos: desporto, cultura, limpeza, relações sociais, educação, saúde, trânsito, etc., etc., contava que pudesse haver uma reserva de força, motivação e criatividade, capaz de dar luta, de resistir de novo, de construir a alternativa que a Cidade precisa.

Seria preciso construir uma esperança, reunir as pessoas e as suas reservas de ânimo, traçar objectivos e caminhos colectivos, despertar as consciências e envolver as inteligências, conquistar melhorias a pouco e pouco e todos os dias. Acreditar e fazer acreditar.

Lamentavelmente, são outras coisas, outros fenómenos, outros interesses, outras inépcias que se movimentam, se jogam e se consolidam. Afinal, um retrato sócio-político do fracasso da Cidade.

A mim, já me parece, desperançado, que a mediocridade veio para ficar. Perdoem-me se não a consigo continuar a partilhar convosco. Atingi o meu limite.

Na idade em que estou, não posso permitir-me o luxo que a mágoa e revolta que sinto por tudo isto, me cause úlceras ou uma qualquer neuropatia. Estrafeguei a emoção e voltei a dar asas à razão. Vou libertar-me de Sacavém.

Adeus tristeza, até depois
Chamo-te triste por sentir que entre os dois
Não há mais nada pra fazer ou conversar
Chegou a hora de acabar

Na minha vida tive beijos e empurrões
Esqueci a fome num banquete de ilusões
Não entendi a maior parte dos amores
Só percebi que alguns deixaram muitas dores
Fiz as cantigas que afinal ninguém ouviu
E o meu futuro foi aquilo que se viu

Na minha vida fui sempre um outro qualquer
Era tão fácil, bastava apenas escolher
Escolher-me a mim, pensei que isso era vaidade
Mas já passou, não sou melhor mas sou verdade
Não ando cá para sofrer mas para viver
E o meu futuro há-de ser o que eu quiser