
O Dr. António Costa, actual Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, é tido como um valor sólido na política nacional e, sobretudo, no Partido Socialista, onde já desempenhou quase todas as missões importantes.
Num breve aparte, direi que lhe falta ser secretário-geral do PS e primeiro-ministro e de acordo com as más línguas, foi recentemente empurrado por Sócrates para a candidatura à Câmara de Lisboa, para que não estivesse no Governo a fazer sombra (e quem sabe se a cama, politicamente falando, bem entendido) ao próprio Sócrates, que gosta pouco que lhe façam frente e que hajam outros a destacar-se tanto ou mais que ele.
Creio que o Dr. António Costa nunca fez mais nada de substantivo a não ser política, mas pela idade que tem e a respeitabilidade e projecção já alcançada, parece ser um político com futuro.
Eu, como noutros escritos já publicados e postados, recentemente e quando António Costa foi candidato à Câmara de Loures, tenho tido e tenho suscitado as maiores dúvidas em relação às suas qualidades, sensibilidade e visão para ser autarca.
Bem se sabe que nem todos temos jeito para as mesmas coisas, se não, seriamos todos Cristianos Ronaldos, de finta estonteante, o centro das atenções mediáticas, candidatos a "melhor do mundo", um must para as mulheres, como sonhamos ser e nos esforçamos todos os dias.
E cá para mim, o Dr. António Costa não tem jeito para ser autarca. Quer na sua primeira incursão autárquica, reforçada de burros e ferraris, quer na conquista de Lisboa, beneficiando da fragilidade dos adversários, o Dr. Costa-autarca perdeu-se em promessas e compromissos insignificantes, incoerentes, insuficientes, incompletos e insatisfatórios. Se era muito mau para Loures, na Capital é péssimo.
Se de Loures saiu muito rapidamente, porque não ganhou e as suas propostas não tinham profundidade, aceitação e consistência, já em Lisboa, estará pelo menos dois anos e quererá estar os quatro seguintes ou pelo menos a deixar caminho aberto ao PS. Por isso, está a tentar executar as suas promessazitas de trazer por casa, como a do encerramento ao trânsito, aos Domingos, do Terreiro do Paço.
Mas será que eu discordo do encerramento do Terreiro do Paço ao trânsito aos Domingos? Nem pensar, é claro que não! É uma boa medida. A ideia é boa e apoiável. Só que é nestas coisas que se revelam os autarcas de dimensão... e os outros.
Desde logo pergunto, porquê apenas ao Domingo ? Nem ao menos no fim de semana ? É bem sinónimo da timidez, da falta de convicção, da incerteza, do medo de desagradar. De resto, não poderia ser de outra maneira, já que não há qualquer outra medida complementar que crie alternativa. Trata-se de encerrar um pedaço da Cidade, pura e simplesmente.
Se ao menos houvesse um esquema de aluguer ou empréstimo de bicicletas como em tantas capitais europeias. Se ao menos houvessem transportes colectivos alternativos e frequentes. Se ao menos estivesse a desenvolver-se uma eco-via na margem do Tejo, ligando o Parque das Nações a Algés.
Não, nada. Fecha-se um bocado da Cidade e pronto, passamos a ser felizes, amigos do ambiente, passamos a divertir-nos muito (ao Domingo), passamos a ter uma capital modernaça, mais arejada, menos ruidosa, taramtantam, tarantantam...
Não, nada disso. Ontem, Domingo, o encerramento avulso de parte da Cidade resultou apenas que os muitos (e foram mesmo muitos) automobilistas - vindos de norte - que foram apanhados de surpresa pelo corte de vias e acessos, se aglomeraram na Avenida Infante D. Henrique, foram empurrados para dentro da Rua da Alfândega, forçados a subir a Rua da Misericórdia ou a espalhar-se por ruelas, estreitas, sinuosas e bloqueadas.
O resultado prático foi muito barulho, buzinadelas, acelerações despropositadas, maior contaminação atmosférica, crispações, discussões, aborrecimentos. Pelo que vi, nada nem ninguém ganhou com a medida, com a precipitação da medida, com a demogogia que a medida envolve.
Pois não me parece que este seja o caminho para Lisboa. Pelo contrário, isto são barreiras, apenas barreiras, para se viver a Cidade e para viver na Cidade. E a progressiva desertificação é se calhar o maior problema de Lisboa, problema cuja complexidade não se resolve nem desta forma, nem com a intensificação urbanística dos anéis de crescimento de Lisboa.
Se o novo Presidente da Câmara de Lisboa, não perceber isto rapidamente e não inflectir o caminho, confirma-se a minha suspeita: o Dr. António Costa não tem sensibilidade, não tem visão, não tem capacidade para ser autarca, o que não lhe belisca nenhuma das outras qualidades que lhe reconhecem.