30.5.06

FIGURA, figurões e figurinhas...

Bem sabemos todos que a nossa vida individual e colectiva está repleta de figuras, figurões e figurinhas. Descodifiquemos: para mim, as figuras são aqueles que se distinguem verdadeiramente, pela sua capacidade humana, pela sua dedicação a causas, pela sua luta em prol de muitos, pela excepcionalidade da sua inteligência, pela notabilidade das suas realizações efectivas. Os figurões, serão aqueles que gostam de ser conhecidos por fazer aquilo que, afinal, nunca fizeram, por serem aquilo que, afinal, nunca foram. As figurinhas, são todos aqueles casos, que por aí pululam, não fazendo nada que valha a pena e que nem sequer fingem fazer. Existem e é o máximo de que são capazes.

Vem este intróito a propósito de mais uma perplexidade que assola, a tam nobre e decadente Cidade de Sacavém. Nos dias que correm são muitas as perplexidades, mas esta é de bradar aos céus, aos mares, aos deuses e quem sabe se a mais alguma parte em especial.

Sacavém – provavelmente sem nenhum mérito e só com muita sorte – tem o privilégio de contar entre os seus naturais uma FIGURA maior de nível mundial. Eduardo Gageiro é essa FIGURA. Um dos mais reputados e premiados fotógrafos de todo o mundo, que embora leve uma vida a correr o globo para fotografar e ser agraciado, nunca deixou de ser profundamente sacavenense.

Algumas das suas melhores imagens, alguns dos seus momentos mágicos, foram captados na sua terra, na nossa terra e, ainda assim, para absoluto espanto meu, nem todos os prémios, todos os reconhecimentos, todas as homenagens que tem recebido por esse mundo fora, conseguem que os figurões e as figurinhas de Sacavém sejam capazes de pôr em marcha a mais que justificada e merecida homenagem da Cidade ao seu conterrâneo.

A CDU propôs a homenagem na Assembleia de Freguesia. Depois, uns cavalgaram a ideia, outros teceram loas. Até foi nomeado um grupo de trabalho. Fizeram-se reuniões, estudos, análises, considerações, reflexões, apreciações, consultas, ponderações, relatórios, ofícios, visitas, tiraram-se medidas e puseram-se pontos nos iis. Tudo debalde.

Os figurões e as figurinhas do poder local da terra, não são capazes de sair de onde estavam, antes da proposta de homenagem ser apresentada. Ou eu me engano redondamente e, afinal, está em marcha uma coisa verdadeiramente nunca vista que fará roer de inveja Hollywood ou, tenha Eduardo Gageiro o mérito que tiver, nunca verá a sua terra retribuir-lhe o apreço e reconhecimento que lhe prometeram.

Será uma inacreditável indignidade e uma revoltante afronta, mas poderemos na verdade esperar muito mais dos nossos figurões e das nossas figurinhas ? Em qualquer outro sítio, Eduardo Gageiro, seria um símbolo reclamado, apoiado e até venerado. Aqui, parece que nem respeitado!

Numa Cidade a Sério, Eduardo Gageiro, estaria na rua, as suas obras seriam expostas permanentemente, valorizando a terra e as gentes. E quantas formas haveriam para – em prol da comunidade e da Cidade – aproveitar o génio deste seu filho especial ?!...
Se de mais não somos capazes, se mais imaginação não temos para deixarmos de ser sugados por esta espiral de decadência urbana, social e cultural que atinge tão profundamente a Cidade, arrisque-se, pelo menos, uma “colagem” às nossas FIGURAS de referência, para exaltar o orgulho sacavenense, para dar ânimo, coragem e exemplo a uma terra descrente e deprimida.

Quem sabe se, uma vez transformada uma homenagem falhada, numa homenagem digna, séria e sentida, não despontará um querer e poder colectivo que nos leve e à Cidade a algum lado ?!...

Seja como for, o que não pode passar em claro, para já, é que os nossos autarcas figurinhas são incapazes de fazer aquilo que era seu dever e matéria sobre a qual tomaram decisões há muito tempo: HOMENAGEAR DIGNAMENTE A FIGURA EDUARDO GAGEIRO.

22.5.06

Carrasco.

Durante anos nutri grande simpatia intelectual e académica pelo Professor Francisco Nunes Correia. Muitas das suas apreciações e dos seus escritos constituíram, para mim, referência incontornável na preparação de trabalhos académicos e na reflexão sobre problemáticas ambientais, em particular no domínio dos recursos hídricos.

Contudo, para grande desapontamento meu, o Professor Nunes Correia, está a revelar-se uma nulidade política de destaque. Não farei hoje e aqui o inventário de tudo o que era possível fazer nas áreas do ambiente, do ordenamento do território e do desenvolvimento regional e que não está a ser feito. Também não inventariarei tudo o que está ser feito e não deveria ser feito.

Pela proximidade – física e emocional -, pela oportunidade e pela urgência, detenho-me sobre o papel do Senhor Ministro em relação à situação do Palácio de Valflores, em Santa Iria de Azóia.

Como se sabe e quem não souber basta passar por lá, o Palácio, classificado como imóvel de interesse público, está em derrocada e o Sr. Ministro arrisca-se a ficar para a história com o cognome de “O Carrasco”. De facto, está na sua mão, a possibilidade e oportunidade de autorizar a Valorsul a fazer a recuperação do Monumento e a dar-lhe uma utilidade.

Mas o Sr. Ministro, ao invés de apoiar o relevante papel social que aquela empresa pode e deve ter, preferiu acolher um parecer tecnocrático, despropositado e lesa-património nacional do IRAR (Instituto Regulador das Águas e Resíduos) que recomendou ao Ministro que não autorizasse a intervenção da Valorsul.

E o que argumenta o IRAR para se opor à solução disponível (não se conhece outra, para além de umas fantasias montadas com o intuito de ocupar espaço na comunicação social): 1) Que não é vocação da Valorsul, pagar a recuperação do Património; 2) Que o investimento da Valorsul no Palácio tem repercussões na taxa de resíduos sólidos.

Aprecie-se então, mais de perto estes argumentos. Quanto ao primeiro, é uma evidência que a Valorsul não nasceu para cuidar e recuperar Património. Mas então, pergunta-se ao Governo e ao Sr. Ministro onde estão as entidades do Estado que têm essa vocação e essa obrigação ? Que solução têm para o problema ? Por outro lado, não é verdade que a Valorsul e as demais empresas maioritariamente participadas pelo Estado, estão obrigadas a apresentar um relatório de sustentabilidade ? Não é verdade que esse relatório, deverá reflectir os pilares, sustentabilidade económica, sustentabilidade ambiental e sustentabilidade social ?

Se assim é, mas a Valorsul não pode promover a sustentabilidade social na sua área de intervenção, parece-me que ou se acabam os relatórios fantoches (para UE ver) ou então o Sr. Ministro terá de definir o que raio é isso das sustentabilidades, aplicado à Valorsul;

No que concerne ao segundo argumento, é também uma evidência que a única fonte de receita da Valorsul são as taxas pagas pelo destino final dos resíduos sólidos, que a empresa trata. Mas vamos lá quantificar, para clarificar. O investimento a fazer no Palácio de Valflores custaria a cada um de nós, residentes na área de intervenção da Valorsul (vou dizê-lo em voz alta): QUARENTA CÊNTIMOS POR ANO! Ou seja, menos do que o preço de um café por ano. E não se trata de um aumento de preço de 40 cêntimos. Trata-se simplesmente de canalizar 40 cêntimos/ano do que já pagamos hoje para esse fim.

Efeito sobre as taxas existe, mas tem esta expressão: 40 cêntimos por ano. E já agora pergunta-se, será que não sendo a Valorsul autorizada a intervir, o Governo vai imediatamente mandar abater à taxa que hoje pagamos os tais 40 cêntimos ?

E se o Sr. Ministro não quiser ver a Valorsul a gastar mais do que esse valor, em cada ano, para as diversas intervenções que a empresa pode e deve fazer em cada um dos Municípios que a compõem, é tão simples! Basta o Sr. Ministro determinar que a Valorsul não pode assumir compromissos com o pilar da sustentabilidade social acima dos 800 mil euros em cada ano.

Assim, a Valorsul cumpriria o seu papel social, o Sr. Ministro saberia o valor exacto desse compromisso anual, os Municípios saberiam que em cada ano poderiam obter um significativo apoio para o que mais necessitassem no seu Concelho e, nós os munícipes saberíamos que contribuiríamos com 40 cêntimos anuais para a nossa própria qualidade de vida. Quem perderia com isso ? Remotamente, os patos bravos que esperam a queda do Palácio, para procurarem urbanizar a Quinta em que este está edificado. Mais ninguém!
Não perceber isto, é ou não, sinónimo de nulidade política ? Por favor Senhor Ministro, deixe-me voltar a ter-lhe respeito intelectual.

12.5.06

Não há dinheiro ?!...

Não há dinheiro, é uma desculpa recorrente, nos nossos dias, para que a maioria PS da Câmara de Loures não execute as suas promessas, para que não faça o que tem de fazer, para estagnar a actividade municipal.

Curiosamente, a táctica de “não há dinheiro” vai-se revelando cada vez mais semelhante a um queijo suíço: são mais os buracos que a substância e o último buraco conhecido é muito interessante…

A história é simples. A Cidade de Lisboa acolhe o fórum internacional “European Museum Of The Year Award” entre 10 e 13 de Maio. De acordo com o site da organização, serão 175 os participantes no evento.

O espantoso, é que a Câmara de Loures, onde “não há dinheiro” para nada, convidou, de uma vez só todos os participantes para almoçarem, a expensas do Município – pasme-se – no Museu da Cerâmica, em Sacavém.

Pois, bem, deixem-me especular um pouco. Se aos 175 participantes internacionais, se juntarem, vamos dizer apenas 10 participantes anfitriões, teremos 185 pessoas para almoçar. Se cada refeição custar € 40,00 (o que até é barato, para um almoço internacional) teremos então: 185 x 40 = € 7.400,00 (sete mil e quatrocentos euros) ou seja, na nossa antiga moeda, mais de 1.480 contos. Ora, para quem “não tem dinheiro”, é uma despesa com peso.

E a propósito, há um conjunto de questões que se levantam:

Para quê estar a oferecer tantos almoços, quando o anfitrião oficial é Lisboa e não Loures ?

Será que tal almoço serve os interesses de Loures de alguma maneira (diga-se então em quê) ou simplesmente serve para um mero exercício de vaidade saloia ? De exibicionismo gastador pacóvio ?!...

Note-se que, para além do evidente esbanjamento de recursos públicos que supostamente “não há”, acresce este facto inusitado de servir mega-refeições no Museu da Cerâmica.

Se calhar daqui a pouco seremos surpreendidos com o Museu da Cerâmica a ser palco para “bodas” de casamentos e baptizados, de modo a que o Município obtenha os recursos financeiros necessários que diz faltarem-lhe para a assunção das suas responsabilidades.

Quem sabe se para financiar as escavações arqueológicas paradas, para conferir dinâmica ao serviço educativo dos Museus, para emprestar qualidade e variedade às exposições, para investigar e preservar o Património Cultural Construído que vai caindo de maduro por todo o Concelho.

Para dar um exemplo, diria que os cerca de 7.500 euros consumidos na almoçarada, seriam já uma contribuição significativa para a urgente intervenção de consolidação que o Palácio de Valflores necessita. Será que os técnicos responsáveis pelo património explicaram isso aos responsáveis políticos ?

Estou certo que os participantes no European Museum Of The Year Award, aplaudiriam de pé, uma declaração do Município de Loures em que dando conta do seu gosto em pagar um almoço a tão ilustres visitantes, teria decidido direccionar a verba para a reabilitação de um monumento em concreto.

Provavelmente, Loures sairia do evento, se não com um prémio ou uma menção honrosa, pelo menos com uma lembrança honrada na mente dos especialistas internacionais. Faríamos de certeza melhor figura e todos aproveitávamos…