23.3.06

O estranho caso do orçamento.

Este podia bem ser o título de uma das aventuras policiais do Comissário Maigret ou das elaborações intelectuais de Nero Wolfe. Não sei se não mereceria mesmo a actuação conjugada das duas personagens no mesmo “palco do crime”. E como a maior parte dos enigmas, neste “caso” descreve-se com facilidade o que acontece, mas não se sabe porque acontece, tal como no mito do triângulo das Bermudas: tudo desaparece (simples), mas não se sabe porquê (merece investigação especializada e não se sabe se algum dia haverá resposta). Passemos então adiante, ao que é simples, já que para mais, terá de ser alguém mais dotado que eu a procurar entender:

Quando a actual gestão da Câmara de Loures – a tal gestão da “mudança” – chegou ao poder, muito se queixou que não havia dinheiro, mas enquanto se queixava, ia inaugurando as obras que a anterior gestão deixou feitas ou a fazer. Ou seja, dá para perceber. Se se gastou o dinheiro em obras públicas, este não estava guardado num cofre, num banco ou mesmo debaixo de um colchão. Não era possível fazer como Tio Patinhas, mergulhar numa imensa piscina de dinheiro. Estava aplicado!

Cinco longos e arrastados anos depois, o Concelho de Loures “vai sentindo a mudança”: Novas escolas não há, novas vias não se vêem, o Hospital parou, os centros de saúde fecham, o património cai, os investimentos na rede de abastecimento de água estão suspensos, os contentores do lixo já não são lavados, o PDM agoniza, os bairros de génese ilegal têm alucinações, as viaturas municipais param por falta de peças, os cães vadios já não são recolhidos, a actividade cultural é uma miragem, do Estádio do GS Loures nunca mais se ouviu falar. A lista não tem fim. É o espelho da “mudança”.

Entretanto, prossegue o enigmático discurso de “não há dinheiro”, o que adensa o mistério. Loures, é o 5º maior município do país e não terá, nunca teve, dinheiro para tudo. Contudo, isto é diferente de agora não ter dinheiro para nada, certo ?!...

Pois bem, parece que não. Mas o que dá verdadeira profundidade e estranheza ao caso – digno dos mais hábeis investigadores - é o orçamento municipal de 2006. Foi preparado, elaborado e defendido pela actual gestão. De acordo com as regras orçamentais, foram previstas as receitas e foram decididas as verbas a afectar a cada rubrica de despesa, aos programas, às acções, aos parafusos, ao papel de fotocópia, aos detergentes da limpeza.

Mas eis quando afinal, os serviços municipais não podem usar as ditas rubricas orçamentais, porque as verbas lá inscritas não são para gastar, são apenas para olhar e sonhar… porque “não há dinheiro”. Ou seja, os carpinteiros sonham com os parafusos, mas não lhes podem tocar, os administrativos executam fotocópias mentais com a sua memória fotográfica e o pessoal da limpeza, vai limpando com água, até que as condutas de abastecimento rebentem de maduras (e já rebentam em muitos sítios) e depois desenvolverão um programa intensivo de limpeza a seco, com panos do pó que trarão de casa, porque panos do pó no armazém municipal é um luxo a que a Câmara de Loures não se pode dar!

Que “mudança” hein?!... Mas avulta o estranho caso do orçamento: para onde vai a “massa”, se não vai para as despesas que estavam previstas no orçamento ? Se não se queria gastar dinheiro naquelas coisas, porque é que se fez de conta que se queria ?

É um estranho caso.

17.3.06

Quem acredita ? (parte II)

O Dr. Miguel Jorge Reis Antunes Frasquilho foi o candidato do PSD à Presidência da Câmara Municipal de Loures;

Foi com um título igual e um início parecido que, antes das eleições, escrevi sobre as minhas suspeitas que o Dr. Miguel Frasquilho seria um candidato “tirado da cartola” do PSD, sem qualquer ideia do Concelho de Loures e sem qualquer ideia para o Concelho de Loures.

Hoje, posso dizer que se confirma a minha tese. O Sr. Dr. Miguel Frasquilho foi eleito e que me conste não compareceu a uma única reunião da Câmara Municipal. O seu lugar está lá, mas sempre vago.

Entretanto, o PSD que já se sabia dividido, desorganizado e desorientado, vai-se embrulhando em decisões contraditórias, em que toda a gente retira a confiança política a toda a gente e ninguém põe ordem na casa.

Pelo meio e sem nenhuma surpresa propriamente, o segundo Vereador eleito pelo PSD, o Dr. Paulo Guedes da Silva, destacado tribuno social-democrata na Assembleia Municipal durante o anterior mandato autárquico, que se notabilizou pelos persistentes e por vezes inflamados ataques à “governação” autárquica do PS, aparece agora como o lobo que virou cordeiro ou numa versão mais prosaica e politicamente incorrecta, o queijo que virou limiano, sustentando a maioria socialista e as suas políticas.

Isto é, com o Dr. Paulo Guedes da Silva, o PS adquire no órgão municipal a maioria absoluta que os eleitores lhe recusaram na urna.

Bem que eu tinha advertido os eleitores social-democratas para acautelarem a tempo o destino dos seus votos. Acato não ter sido ouvido, mas aí está a realidade nua e crua. O Dr. Frasquilho está desaparecido em parte incerta e o Dr. Guedes da Silva, subjugado em parte certa.

É pois claro que as estruturas do PSD apostaram na vitória do PS no Concelho de Loures. Ou porque acreditam que quanto pior melhor e esperam vir a ganhar alguma coisa no futuro com a gestão desastrosa do PS ou porque acreditam (ou sabem) que o PS lhes facultará uns “lugares” onde o que menos interessa é o Concelho e o que mais interessa são as retribuições e as prebendas.

A não ser assim, o que explicaria a absolutíssima omissão do Dr. Frasquilho, a transmutação do Dr. Guedes da Silva, o silenciamento das estruturas locais do PSD e a inacção do Dr. Marques Mendes ?

Pois, quem acredita que em Loures o PS não “engoliu” já os vereadores do PSD?

Os lugares começaram a ser distribuídos e o Dr. Guedes da Silva já tem um. Aposto que vai ter mais. E o Dr. Frasquilho há-de ser substituído e alguém mais terá lugares à disposição.

Quem me demonstra que estou enganado ?