Passou completamente despercebido
na comunicação social portuguesa, a circunstância civilizacional de, no passado
dia 19 de Agosto, se ter virado, suicidáriamente, uma preocupante página na
história da humanidade: o Homem passou a estar em défice ecológico com o
Planeta.
É uma questão magna, cuja omissão
e ocultação, não me parece nada inocente. Contudo, em Portugal, anda-se
entretido com os resultados do futebol, os cínicos pedidos de desculpas de
ministros incompetentes e os absurdos debates Costa/Seguro.
Ao mesmo tempo, perante a quase
generalizada indiferença dos cidadãos, o governo português força a
injustificada privatização da EGF, empresa responsável por parte importante da
recolha e tratamento dos resíduos sólidos urbanos no nosso país. A questão é
que nem toda a gente sabe ou está atenta, ao facto de a EGF ser uma sub-holding
da muito mais apetecível Águas de Portugal. E é exactamente a Águas de Portugal
que é o objectivo a atingir, ou seja, o que se quer mesmo é privatizar a água
em Portugal, numa miserável agenda ideológica que pretende privatizar tudo, mas
especialmente a água, por muitos considerada o “petróleo do séc. XXI”.
Como bem se compreende o epiteto
de petróleo do séc. XXI não é uma denominação aleatória, antes se funda no
facto de a água significar muito lucro e poder, muito poder. É isso que faz com
que a água – composto químico único essencial à sobrevivência das espécies e,
principalmente, da humana – seja hoje o principal foco de interesse daqueles
que veem nela o principal instrumento de dominação futura.
Uma nota mais, reveladora, sobre
quem são os principais interessados e agitadores da marcha forçada para a
privatização da água em todo o mundo: o Banco Mundial, o FMI e a União
Europeia, que uma vez mais, demonstra inequivocamente ao serviço de quem se
põe, sistematicamente.
Em Portugal – embora muita gente
inconscientemente pense que não – estamos na eminência de uma dramática
escassez de água. Não é coisa de televisão que apenas acontece aos outros.
Recorde-se que os 3 principais rios que cruzam o território nacional, Douro,
Guadiana e Tejo, e que são cruciais para o abastecimento de água ao país, correm
de Espanha e deixam-nos particularmente dependentes. Só temos água armazenada
para 2 dias, repito, 2 dias.
Ainda alguém se lembra que aqui
há uns anos, Espanha reduziu substancialmente os caudais e os rios em Portugal
pareciam ribeiros à beira da extinção ? Percebe-se melhor assim, porque é tão
perigosa a privatização da água ? Por causa do poder de abrir e fechar a
torneira para quem se quiser, quando se quiser.
Paralelamente, à absoluta
oposição à privatização da água, impõe-se uma campanha nacional de informação
às populações sobre a necessidade de preservar rigorosamente este bem escasso e
essencial, bem como tomar medidas operativas para acabar com o desperdício. Só
em Loures, no final do reinado da gestão PS, as perdas na rede estimavam-se em
40%. É uma cifra escandalosa e temerária.
Um governo a sério, aproveitaria o próximo ciclo de
fundos europeus para fazer o que é preciso e urgente no domínio da água,
enquanto recurso indispensável e tão ameaçado como está. Privatizar, como
suposto instrumento de gestão, não passa de um grave crime lesa-pátria.
publicado em Notícias de Loures, nº 6, Agosto 2014