Este último, já tenta dar-se ares de primeiro-ministro. O outro, procura mostrar-se determinado, em o vir a ser de novo. Ambos, dançam aquela já bafienta dança do agora vais tu, depois vou eu e assim sucessivamente.
Tudo se prepara, uma vez mais, para o grande (e já habitual) condicionamento. Para nos inclucar a todos a ideia de que não podemos mudar de rumo, nem de vida. Para nos fazer crer que temos "liberdade de escolha", mas ou escolhemos "rosa" ou escolhemos "laranja", ou escolhemos um rapazito ou um rapazote. Nada, nem ninguém mais, é hipótese.
Vão-nos dizendo subliminarmente que nem os "mercados", nem a Sra. Merkel, veriam isso com bons olhos, portanto, se estivermos com ideias peregrinas, o melhor é esquecermos e limitarmo-nos à gentinha em quem eles possam mandar.
Mas os portugueses já bem evidenciaram que querem outro caminho. Não apenas as manifestações de dia 12 e de dia 19 o mostraram acutilantemente, como não se viu derramada uma única lágrima, pela queda do malfadado governo Sócrates (excepto talvez pela sua rapaziada mais próxima ou aqueles cujo "lugar" na vida dependa do aparelho do PS) que tantos apoios recebeu de Passos Coelho para se manter firme em direcção ao abismo.
Mas esse outro caminho, esse outro horizonte, essas outras políticas que o país e os portugueses reclamam, não são óbvios, não estão patentes. Precisam desenhar-se e apresentar-se, para que emerja uma alternativa consistente e credível, com apoios vastos e diversificados.
Eu acho não apenas que essa alternativa é desejável, como acho que é possível. Acho mesmo mais, que é um imperativo que uma nova oportunidade política tenha lugar em Portugal.
Na minha opinião, uma tal alternativa, só pode ter berço na esquerda parlamentar e na esquerda sociológica em unidade conceptual e de acção. Do que se trata é de construir uma solução de salvação nacional democrática e de esquerda.
Onde o PCP, o BE, Os Verdes, os sectores de esquerda do PS, os muitos independentes e as gerações à rasca se possam entender, num programa mínimo de mudança, apontando novas direcções de empenho e impulso nacional, trazendo para a vida política activa e responsável novos protagonistas.
Uma solução, onde nenhum partido, nenhum militante, nenhum independente, tenha de prescindir da sua identidade, mas onde todos possam dar algo de si, para uma convergência indispensável e urgente. Onde os valores maiores que são o país e as pessoas tenham efectivamente primazia, em detrimento das diferenças político-ideológicas que possam reconhecer-se e manter-se.
Portugal precisa de uma mobilização nacional, de uma participação civíca sem precedentes, de uma opção governativa completamente diferente, de um programa político de efectiva modernização, de medidas firmes e honestas de recuperação dos sectores produtivos nacionais, de uma relação não submissa com a União Europeia, de se emancipar da canga dos "mercados", de se libertar da obssessão do defícit, de reconstruir o orgulho nacional e a confiança no futuro como nação livre e independente.
Estes propósitos só são possíveis à esquerda e as esquerdas têm, neste momento histórico, a obrigação política, ética e moral de oferecerem aos portugueses essa alternativa e essa oportunidade.
Não se entenderá, se uma vez mais, questões menores, tricas e intrigas, não permitam viabilizar o diálogo construtivo, o empenho político e a gestação de uma outra opção, bem diferente daquelas que através dos últimos 30 anos nos trouxeram até esta desgraçada situação em que nos encontramos.
Fazer falta de comparência agora, negar essa possibilidade, transformará a esquerda portuguesa não apenas em refractária, mas mesmo numa esquerda infiel.
Espero iniciativas e esforços sinceros, para que não se deixe o país resumido aos rosas e laranjas do nosso descontentamento e da nossa desgraça.