É o silêncio dos bons.
Este espaço é de opinião. Concentra opinião publicada por outros meios, mas também textos originais. Uma e outros têm uma coisa em comum: expressam ideias e pontos de vista próprios, por vezes, fora do carreiro.
24.1.08
9.1.08
Re-elogio da loucura
Não adianta sequer resistir às modas e tendências. Portugal tem um não sei quê genético para polícia de costumes e bufaria engravatada. Está-lhe mesmo nos genes e qualquer Salazar dos novos sabe isso.
A morte do escritor Luiz Pacheco não é apenas uma perda para a cultura. Numa altura em que o Governo investe a sério, e com ASAE pela trela, numa fornada de cidadãos enérgicos e atléticos, livres de fumo e bactérias, ainda mais se sentirá a falta da sã loucura dos indomáveis.
Luiz Pacheco fazia parte daquele grupo de criadores – João César Monteiro e Cesariny eram outros - que um Estado decente subsidiaria. A fundo perdido. Para seu próprio bem. A paisagem agradecia e o País melhorava.
Bastava pedir-lhes que fossem como sempre nos habituaram: irreverentes, refractários, subversivos, de manguito carregado e palavras sem dono. Seríamos todos mais felizes e a geração vindoura agradecia. E ainda íamos a tempo de mostrar que, felizmente, ainda há quem tenha um parafuso a menos e um cigarro a mais.
Temo bem que, com andar da carruagem, figuras semelhantes a Luiz Pacheco, César Monteiro e Cesariny tenham cada vez menos lugar numa sociedade estilizada, de ideias poucas, comportamentos light e filosofia Paulo Coelho. Quando muito, o Ministério da Cultura talvez estivesse disponível para criar, para alguns intratáveis, uma reserva «índia», coisa para turista ver. «Não é permitido dar de comer ao Cesariny». «Cuidado, não coloque as mãos na jaula do Luiz Pacheco». Coisas assim. E a vidinha seguia, livre de corantes e conservantes. E outros animais falantes.
Quando um Governo ataca a fumarada com golpes baixos e faz da política um misto de jogging e salto à vara, não se pode esperar dias melhores. Um País com dois milhões de pobres que decide baixar o IVA dos ginásios não regula (o que, de certo modo, já o eleva à condição de um César Monteiro, vá). Os ginásios, esses, continuarão a esfregar as mãos com os propósitos saudáveis do Governo: vão engordar à custa de taxar as nossas gorduras por outras vias, à razão de 10 euros por cada fatia de paio ingerida.
Não adianta sequer resistir às modas e tendências. Portugal tem um não sei quê genético para polícia de costumes e bufaria engravatada. Está-lhe mesmo nos genes e qualquer Salazar dos novos sabe isso.
Não tardará a que uns candidatos a Cesarinys, Monteiros ou Pachecos sejam internados ou fiscalizados antes de rabiscar numa folha branca um desarranjo intelectual. Onde já se viu, dizer e escrever o que lhes vai na telha, os improdutivos?! O País não está para loucuras, senhores. E todos somos necessários nesta grande tarefa de higienizar a cidadania e desinfectar o cenário de parasitas. O Portugal de Sócrates não quer bicho na maçã nem grão na engrenagem. Com um País assim, que pena César Monteiro não estar vivo: pedia-se mais um filme negro com actores em «off». Branca de Neve já temos.
1.1.08
Sócrates deseja-nos um bom ano novo.
Serviços de saúde estão mais caros a partir de hoje. Novo ano começa com a actualização das taxas moderadoras.
A s taxas moderadoras da saúde sofrem um aumento de 2,1% a partir de hoje, de acordo com a portaria ontem publicada em Diário da República. Nove meses depois de os valores serem actualizados e da introdução do pagamento das cirurgias em ambulatório e internamentos, os serviços de saúde voltam a aumentar de custo.
Data de Abril a entrada em vigor de uma medida que, quando foi aprovada, foi amplamente criticada pelos movimentos de utentes, mas que acabou por ser aplicada sem contestação. A cirurgia em ambulatório e o internamento, até então gratuitos, passaram a ser cobrados nas unidades do Serviço Nacional de Saúde.
Na mesma altura, consultas, exames de diagnóstico e todos os outros cuidados assistenciais sofreram uma actualização de 2,3%.A partir de amanhã, as taxas moderadoras aumentam 2,1%, valor calculado em função da inflação prevista, justifica o Ministério da Saúde.
Assim, uma consulta passa a custar 2,15, 2,9 ou 4,4 euros, dependendo de ser realizada no centro de saúde, hospital distrital ou hospital central.
Da mesma forma, o recurso à urgência é cobrado de forma diferenciada conforme o tipo de unidade de saúde 3,6, 8,2 e 9,2 euros, respectivamente.A diária de internamento (até dez dias) passa a custar 5,1 euros (mais dez cêntimos do que no ano passado) e uma cirurgia em ambulatório 10,2 euros (eram dez).No que respeita a exames de diagnóstico, a taxa de um electrocardiograma simples é um euro, de uma radiografia é 1,7 euros e de uma densitometria óssea é de 5,4 euros. Uma tomografia computorizada será cobrada a 8,1 euros, um electroencefalograma a 6,7, uma ressonância magnética a 20,5 e um exame vascular a 16,2.
Com a cobrança das taxas moderadoras dos serviços de saúde, o Estado prevê cobrar cerca de 16 milhões de euros por ano.
in http://jn.sapo.pt/2008/01/01/nacional/servicos_saude_estao_mais_caros_a_pa.html
Os aumentos vão sentir-se em vários sectores. Nas portagens os preços subiram, em média, 2,6%. As viagens entre Lisboa-Porto e Lisboa-Algarve custam agora mais 55 cêntimos.
Ao nível dos transportes públicos, os aumentos vão ser de 3,9%. Os utentes dos transportes suburbanos serão os mais penalizados. Os passes combinados vão custar, pelo menos, mais um euro e cinco cêntimos.
Quanto à água, as subidas serão definidas pelas Câmaras Municipais, mas ninguém escapa a um aumento de 2,1%, a inflação prevista para este ano.
Os aumentos do gás podem chegar quase aos 6%. Na electricidade, a entidade reguladora aponta para aumentos de 2,9%, o que, na factura mensal, se traduz numa despesa adicional de cerca de um euro.
O pão também vai ficar mais caro, muito por culpa do aumento do preço da farinha de cereais. Em alguns casos, a subida pode chegar aos 30%. Uma tendência que, mais tarde, pode chegar ao arroz.
Também os fumadores não se livram de um aumento de 15%. Um maço poderá custar mais 30 cêntimos.
Em 2008, as rendas de casa sobem cerca de 3%.